A saída da família Williams da F1, que aconteceu no GP da Itália, representa o fim de uma era para a categoria

Teimosia. Essa, talvez, seja a característica humana mais perene. Afinal, quando cismamos com algo, não desistimos ou mudamos de opinião. É a força de vontade de conquistar aquilo que queremos que nos move, que nos coloca para frente. É a vontade de provar que estamos certos que nos faz lutar até o fim.

Teimosia. Se tem uma palavra que possa definir Francis Owen Garbatt Williams, certamente é essa. Ele era a piada do circo da Fórmula em meados dos anos 1970. Por mais que se empenhasse, seus carros não passavam de resultados pífios. Mesmo assim, ele não desistia. Faltava comida em casa, as dívidas se acumulavam, mas aquele homem queria provar que sim, estava certo – e que estava predestinado a colocar seu nome na história do esporte que tanto amava, o automobilismo.

Até que a teimosia fez a piada parar de ter graça. A equipe batizada com o sobrenome daquele humilde inglês alcançou grandes voos. Participou de 739 GPs. Teve 128 poles, 114 vitórias e 312 pódios. Foram nove títulos mundiais de Construtores e sete de Pilotos na Fórmula 1, o auge da paixão de seu fundador. Da rainha, recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico.

Chame-o de Sir Frank Williams.

História essa que acabou ontem, 6 de setembro de 2020. A família Williams vendeu a sua participação na Williams Grand Prix Engineering Limited. Frank Williams e Claire, a filha que liderava o time nos últimos anos, oficialmente deixaram seus cargos no domingo. O GP da Itália foi o fim de uma era. Uma era da Williams.

Uma era da Fórmula 1.

Claire ao lado daqueles que, sem ela, continuarão levando o legado do nome Williams na F1 (Foto: Twitter / Williams)

Quando Frank começou, lá atrás, um homem sozinho podia fazer a diferença. Construir carros era tanto engenharia quanto arte. Com graxa, empenho e uma chave de boca você poderia conquistar o mundo.

Foi assim, em menor ou maior grau, com Enzo Ferrari, Colin Chapman, Jack Brabham, Ken Tyrrell e tantos outros.

A história de Frank Williams é ainda mais ímpar entre todas essas. Dos anos 1960 aos 1970, ele só colecionou insucessos. Acabou se aliando ao empresário Walter Wolf, que transformou a Frank Williams Racing Cars na Wolf-Williams. Até que um dia o canadense nascido na Áustria literalmente trancou o sócio do lado de fora da fábrica.

Talvez aquilo tenha definitivamente moldado o caráter de Frank. A teimosia o fez tentar novamente. Fundou a Williams Grand Prix Engineering e lançou uma nova equipe de F1. Sacou como ninguém para onde o esporte ia. Em pouco tempo, a Williams estava vencendo. O primeiro título mundial veio em 1980, quatro anos após ver trocado o segredo da chave da porta da sua primeira equipe.

Foi a teimosia que fez Frank abusar da velocidade, causando o acidente que o deixou tetraplégico, em uma cadeira de rodas pelo resto da vida. Foi a teimosia que o fez voltar aos boxes, para liderar uma equipe que havia se dividido em sua ausência, perdendo um título praticamente garantido.

Patrick Head e Frank Williams: teimosia, insistência e inteligência fizeram com que eles pudessem dominar a F1 (Foto: Twitter / Williams)

Enquanto isso, o esporte mudava ainda mais. Frank foi um dos grandes motores dessa mudança, trazendo a tecnologia avançada para as pistas. Os carros da Williams não tinham apenas a aerodinâmica avançada dos aviões, mas uma computação embarcada que parecia coisa de ficção científica. Para se gabar, de dentro dos boxes o time exibia para todos os seus carros se movimentando como se fossem verdadeiras aranhas.

A F1 foi ficando cara. A Ferrari se viu cada vez mais nas mãos do grupo Fiat, principalmente após a morte de seu fundador. A Lotus não resistiu aos novos tempos. A Brabham virou uma sombra do que fora até desaparecer. A McLaren se tornou um grupo internacional, com os petrodólares que caiam na conta bancária. A Tyrrell se tornou uma equipe de fundo de grid até seu nome virar apenas uma lembrança.

A teimosia evitou que a Williams tivesse o mesmo destino. Frank não quis vender a equipe para a BMW – que terminou o casamento com o time nos anos 2000 soltando cobras e lagartos. Se negou a procurar um grande grupo internacional que absorvesse a empresa da sua vida. Medo, talvez, de se ver trancado do lado de fora pela segunda vez na vida.

Ao mesmo tempo, ele e, a essa altura, a filha Claire não deixaram a chamar apagar. Seguiram no circo, mesmo que fosse para ficar no fim do pelotão.

A diferença é que, agora, ninguém mais tinha coragem de rir.

Acontece que até uma hora a teimosia tem seu fim. A família Williams vendeu a equipe para o fundo de investimentos americano Dorilton Capital. Não se sabe quem está por trás – coisas do mundo moderno, onde capital e ganhos financeiros, mas não rostos, são os motivadores.

Garantiram-se os empregos e a continuidade do nome Williams na F1. Venceu a percepção de que Frank, com idade avançada e afastado do dia a dia, e Claire não poderiam manter aquela estrutura de forma minimamente competitiva.

A lógica venceu a teimosia.

Curioso, porém, é que Frank Williams foi o último a resistir ao processo iniciado por ele lá atrás, processo este que tirou a maior categoria do automobilismo mundial da mão dos apaixonados com as mãos cheias de graxa e a colocou na ponta da caneta Montblanc dos engravatados de fundos de investimento.

Agora, se alguém dizer que não adiantou nada, que o inglês se viu obrigado a deixar o esporte de qualquer jeito, vou retrucar afirmando que está totalmente enganado. Frank Williams deixa a F1 pela porta da frente, com todos os aplausos e salves. Seu nome entrou para a história.

Como disse a própria equipe, no vídeo de despedida, toda jornada chega ao fim. No entanto, a trajetória do nome Williams no esporte ainda não acabou. Ela viverá – e, torçamos, para que continue tão bem-sucedida quanto McLaren e Ferrari. Não será um caminho fácil, diga-se.

Vida longa à Williams.

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