Um dos entrevistados, aliás, é Kenny Szymanski – e merece um parágrafo só para ele, afinal a sua história não é contada no documentário. Comissário da American Airlines e fanático por corridas, Kenny ficou famoso por casar suas viagens de trabalho com as datas dos GPs da Fórmula 1. Ainda com o uniforme da AA, ele ia até o autódromo, vestia vestia as cores da Lotus e, dessa forma, transformava-se no mecânico responsável pelos pneus Goodyear na equipe. Isso sem receber um centavo de salário, apenas pela paixão. Dessa forma, Szymanski trabalhou ao lado de lendas como Mario Andretti e Ayrton Senna, entre as décadas de 1970 e 1980. Hoje, essa figura mantém um pequeno museu da F1 em casa, em Manhattan. E trabalha com os pneus da Chip Ganassi.
Esse não é o único ponto curioso do documentário, é claro. Vemos que o domingo de Indy 500 começa cedo, com o céu ainda escuro – e em uma das conversas de Dixon com a esposa, no motor home, vemos na TV a transmissão do GP de Mônaco da Fórmula 1. Já na corrida seguinte às 500 Milhas, em Detroit, Chip Ganassi (o dono da equipe) dá a letra: sem a vitória no Speedway, o objetivo se tornou vencer o campeonato.
Vencer no Brickyard é mais importante que o campeonato. Coisas da Indy e seu charme.
Com o documentário, aprendemos (um pouco) o que passa na cabeça de um piloto antes de uma corrida
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Acompanhamos o respeito que existe entre pilotos, equipes e mecânicos. Como o próprio Dixon diz, ele está competindo contra seus amigos. A reverência à Penske é exemplar – e isso não diminui a disputa para a Ganassi, pelo contrário. Vencer os lendários adversários, com competentes pilotos na pista, dá um gosto ainda mais especial.
O risco de morte também está presente, como mostra o começo do filme. Ele vai além, depois, aos nos emocionar com as cenas de Dan Wheldon. O inglês não foi o último a perder a vida na categoria – depois dele teve ainda houve o compatriota Justin Wilson. Porém, Dan e Scott eram muito próximos, em um grupo que ainda conta com Dario Franchitti e Tony Kanaan. Os acontecimentos de Las Vegas-2011 ainda reverberam na mente e na vida do neozelandês.
Tudo isso mostra a importância do fator humano. O documentário não se perde em termos técnicos, explicações complicadas, nem nada disso. É uma história de pessoas, feita por pessoas, em um esporte que pode parecer individual de longe, mas que de perto é jogado em equipe. Equipe essa que tem bastante voz durante o longa-metragem.
Pensando bem, ‘Born Racer’ faz por merecer seu título. Automobilismo não é sobre máquinas. Ou sobre pilotos que agem como tal. É sobre pessoas que nasceram com a paixão pelas corridas.
Assim é Scott Dixon.