A chegada da W Series vai colocar a temporada 2019 do automobilismo na história. Com a criação da primeira categoria totalmente voltada para as pilotas, o caminho para as mulheres pode, enfim, ser um pouco mais fácil no esporte

Conseguir seu lugar no automobilismo nunca é das tarefas mais fáceis. Diversas barreiras são encontradas no meio do caminho, como a falta de oportunidades e patrocinadores e se você for mulher, as circunstâncias podem dificultar ainda mais a trilha. Entretanto, isso tudo pode mudar neste ano.

Em 2019, vai entrar pela primeira vez na pista a W Series, uma categoria totalmente voltada para as pilotas. Com a previsão de seu início para o final de semana do dia 4 de maio, a categoria corre agora para formar o seu grid, que vai contar com 18 carros.

Com expectativas em alta, mas ainda sem saber o que vai acontecer, resta apenas esperar o campeonato começar para definitivamente sabermos como tudo vai se desenrolar. Mas para começar a entender alguns pontos, o GRANDE PREMIUM foi procurar algumas respostas.

As 28 selecionadas para a fase final (As 28 selecionadas para a fase final (Foto: W Series))

Com a palavra, a W Series

A primeira notícia da criação da W Series aconteceu ainda em 2018, no mês de outubro. A proposta era aumentar a exposição das mulheres no automobilismo, que ainda é bastante diminuta – especialmente por muitos verem o esporte como um ambiente quase exclusivamente masculino.

Questionado pelo GP* sobre de como surgiu a ideia da categoria, Tim Holmes, consultor sênior da categoria, com auxílio de Catherine Bond Muir, CEO da W Series, explicou que foi da necessidade de dar maior apoio para as mulheres. “A ideia veio de nossa CEO, Catherine Bond Muir, uma ex-advogada esportiva”, indicou.

“Ela identificou a oportunidade de dar um apoio mais efetivo para talentosas e ambiciosas pilotas para progredirem para a elite do automobilismo – e fazer isso com um modelo sustentável de negócio que pudesse ajudar gerações de pilotas, apenas que apenas algumas poucas sortudas em um modelo de patrocínio de curto prazo”, seguiu.

Não demorou muito para que muitas pilotas de todo o mundo se interessassem pela categoria. Três semanas após a abertura das inscrições, mais de 100 nomes demonstraram interesse pelo processo seletivo, que pretende montar um grid com 18 competidoras. Portanto, a aceitação inicial foi bastante motivadora.

 

“Estamos muito animados pela resposta, mas não estamos surpresos. Os obstáculos encontrados pelas pilotas são enfrentados ao redor de todo o mundo, e são os mesmos para todas as mulheres tentando seu espaço nos fórmula, nos carros esportivos e de rali, assim como também nos monopostos e karts. Então isso adiciona muito interesse na W Series – nós estamos experimentando uma ótima resposta”, disse.

E como essas pilotas vão ser escolhidas? Através de um processo seletivo que vai olhar muito além de o talento na pista. “Com um grid de apenas 18 carros e uma enorme resposta global, precisamos ser muito seletivos. Já realizamos a primeira parte da seletiva junto com o ex-F1 Alex Würz, um piloto bastante experiente. Esse processo cobriu muitos aspectos, incluindo habilidade de pilotagem, preparo físico, habilidade em comunicação e testes psicométricos. Os próximos passos estarão concentrados em testes com o carro da W Series”, explicou.

Mas nem tudo são rosas, e é claro que, com a ideia de uma categoria que recebe apenas as mulheres, algumas pessoas viram a proposta como um ponto negativo, argumentando que isso as excluiria ainda mais do cenário do esporte a motor. Entretanto, a iniciativa é apontada como uma tentativa de mudança do atual sistema do esporte, ressaltando também o grande número de apoiadores que surgiu ao longo da jornada.

“Nós entendemos isso [as críticas]. Entretanto, o atual sistema foi implementado há 100 anos e não conseguiu identificar ou desenvolver campeãs na elite do automobilismo, então acreditamos que agora é a hora de tentar algo diferente. Ultimamente, todos [incluindo esses que são mais críticos] querem a mesma coisa – mulheres mais competitivas no grid, competindo contra homens em termos iguais”, apontou.

“Não acreditamos nisso [na exclusão das mulheres]. Nosso processo seletivo não é baseado apenas na velocidade, já que nossa intenção é identificar o potencial de pilotagem – estamos tentando identificar futuras campeãs, mas isso pode não ser a mesma coisa que encontrar uma atual vencedora de corridas”, seguiu.

 

(O processo seletivo na Áustria (Foto: W Series))

"Somos muito sérios sobre nossa missão – apoiar pilotas e ajudar mais mulheres alcançarem os grids, e estamos satisfeitos que tantas líderes experimentes no esporte a motor hoje concordam com a gente”, completou.

O pontapé inicial da W Series está marcado para o final de semana dos dias 3 e 4 de maio, em Hockenheim. A categoria pretende ser evento de apoio nos finais de semana do DTM. E quais são as expectativas para o campeonato inaugural? As melhores possíveis.

“Acreditamos que a W Series oferece algo único, não apenas para as pilotas, mas também para os entusiastas do automobilismo, para espectadores e os fãs, então acredito que temos grandes expectativas desde a primeira corrida. Temos recebido uma fantástica resposta do lado comercial também, e estamos vendo os parceiros e patrocinadores que irão oferecer o melhor apoio para esta e as futuras temporadas.”

A W Series vai competir com carros da Fórmula 3 e já terão o Halo acoplado. A campeã da primeira temporada vai ser premiada com US$ 500 mil [ou R$ 1,8 milhão]. Levando a bonificação dada também para as outras pilotas, seguindo a posição final na classificação, será distribuído US$ 1,5 milhão [ou R$ 5,6 milhão].

Outra ajuda que as participantes a categoria terão é a promessa de que o campeonato vai ser gratuito.

As selecionadas durante o processo na Áustria (As primeiras selecionadas da W Series (Foto: W Series))

O que elas acham?

Mas com tantas opiniões, o que as pilotas realmente acham sobre a criação de uma categoria apenas voltada para elas? Tatiana Calderón, primeira mulher a disputar a F2 e pilota de testes da Alfa Romeo, disse nunca ter encontrado problemas para enfrentar os homens na pista, mas não critica a iniciativa.

“Sempre competi contra homens e nunca senti como se não conseguisse superá-los. Sempre quis me medir com os melhores pilotos independente de seus gêneros, mas nunca vou ser contra pessoas que querem ajudar e promover mulheres no esporte a motor. Espero que isso ajude jovens garotas a ganhar mais experiência e bater os garotos mais tarde”, falou.

Ao ser questionada pelo GP* se acreditava que a categoria poderia excluir as mulheres do automobilismo, disse que “acredito que isso é uma pergunta muito difícil de responder e apenas o tempo vai poder nos mostrar.”

Bia Figueiredo, que tem passagem pela Indy Lights e Indy, e hoje corre na Stock Car, seguiu a mesma linha da colombiana. A brasileira afirmou que apesar de não saber se é a melhor forma, a atitude é bastante válida para incentivar as meninas que estão entrando no automobilismo.

“Acho ótimo [as mulheres cada vez mais presentes]. Isso instiga a garotada, as meninas novas que é possível. Isso só ajuda, quanto mais mulheres tiverem dentro do automobilismo, e ainda tendo sucesso, vão trazer ainda mais meninas para o futuro”, pontuou.

“Eu acho que é uma iniciativa e toda iniciativa é válida [a W Series]. Não sei se é a melhor forma, talvez se der o destaque suficiente para a menina que vencer, talvez ela possa seguir por bons caminhos e tentar categorias grandes como a F1”, completou.

 

Elas estiveram dentro da W Series

No mês de janeiro, a W Series realizou a primeira fase do processo seletivo para a temporada inaugural. Após mais de 100 inscrições preliminares, a categoria selecionou 55 nomes, e 54 pilotas foram até a Áustria para os três dias de testes.

Uma das selecionadas foi a brasileira Bruna Tomaselli. A catarinense contou ao GP* que foi Bia Figueiredo quem a indicou para o processo e como foram os dias de atividades. “Após ela me indicar para o pessoal da W Series eu preenchi uma lista de inscrição com meu currículo. Tiveram mais de 100 inscritas, eles selecionaram 60 para participarem dos testes na Áustria, e eu estava entre as 60”, falou.

“[O processo] Foi muito bacana, um dos maiores e melhores que já participei. Foram vários testes desde o sábado até segunda a tarde, com muita neve e frio. Tivemos testes físicos, entrevistas, trabalho em grupo e o mais legal os testes na pista, com diferentes carros e traçados, e para todo teste que fazíamos tinha uma equipe e os jurados avaliando a gente. Foi muito bacana estar lá dividindo tudo com pilotos que tem o mesmo sonho que eu”, seguiu.

Bruna vê a iniciativa da W Series com muitos bons olhos, vendo como uma oportunidade de nivelar o cenário do esporte a motor. “Achei uma grande iniciativa e achei que fazia tempo que estávamos precisando disso. Sempre houve uma grande diferença de gênero dentro do automobilismo e a W Series surgiu para acabar com isso e mostrar cada vez mais como somos capazes de competir de igual para igual com os homens”, indicou.

 

(Bruna Tomaselli (Foto: W Series))

“Uma categoria só para mulheres ajuda as pilotas a se prepararem ainda mais para as categorias ‘principais’. O fato de serem somente mulheres no grid não afasta ninguém dos sonhos ou das grandes categorias, por exemplo, mas sim prepara mais para quando chegar lá, chegar com grande bagagem. A W Series não vai ser só as corridas em si, terão vários outros treinamentos e preparação dentro e fora da pista para preparar as pilotas para o futuro”, seguiu.

Outra participante do processo seletivo foi a inglesa Jamie Chadwick. A pilota de 21 anos também esteve entre as 55 primeiras selecionadas e, após a primeira fase, avançou para a final. “Ainda há um processo seletivo para acontecer, então tenho esperança de que possa ter sucesso e garantir meu espaço no grid de 2019 da W Series”, disse.

“Vejo a W Series como uma oportunidade de correr. Caso eu pudesse, correria 365 dias no ano, então ter uma oportunidade de competir em uma categoria de alto nível do esporte a motor, eu vejo como algo incrível”, seguiu.

A inglesa, que ainda se tornou a primeira mulher a ser campeã do MRF Challenge, afirmou que a categoria vai criar maiores oportunidades para as pilotas. “Eu realmente espero que sim. Até o momento, estou realmente impressionada com o nível de talento que a W Series descobriu e espero que muito mais mulheres cheguem ao topo que não teriam a oportunidade sem a categoria”, encerrou.

Chadwick avançou para a fase final da seleção (Jamie Chadwick (Foto: W Series))

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