Matheus Leist chegou muito novo na Indy, mas sofreu com uma Foyt absolutamente tumultuada. Agora, deixa o grid da categoria, mas com esperanças de retornar em breve
Aos 21 anos, Matheus Leist é um dos ótimos pilotos brasileiros espalhados pelo mundo e não é de hoje. A verdade é que o gaúcho de Novo Hamburgo estourou muito mais cedo do que a média e está em evidência desde 2016, quando conquistou o título da historicamente badalada F3 Britânica.
Aliás, naquele momento, a carência do brasileiro de querer ver pilotos na Fórmula 1 fez Matheus virar a nova bola da vez para a categoria, afinal, Felipe Massa estava prestes a sair e Felipe Nasr tinha acabado de deixar a Sauber. Mas ele tinha outros planos.
Apaixonado pelo automobilismo norte-americano e sabendo que os custos eram bem diferentes dos que teria em categorias de base europeias, Leist foi tentar a sorte no Road to Indy e fechou com a Carlin para a temporada 2017 da Indy Lights. Se na época a escolha pareceu a mais sensata, isso não muda na visão do piloto mais de três anos depois, como ele mesmo conta em entrevista exclusiva ao GRANDE PREMIUM.
"Jamais [se arrepende]. Acho o automobilismo nos EUA muito melhor que na Europa, é mais acessível e praticamente todas as categorias que existem na Europa também existem nos EUA. O SportsCar mesmo é um campeonato sensacional, é reconhecido mundialmente e está crescendo muito. A Indy é espetacular, nem tem o que falar, mas tem também o Road to Indy, um programa de formação que não tem igual na Europa, te dá oportunidade de mostrar talento e chegar em uma das melhores categorias do mundo. Mesmo sendo campeão da F3 Inglesa, acho que foi a melhor escolha que fiz na carreira e era o que eu precisava ter feito pelas oportunidades que tive. Não me arrependo em momento algum e nem penso em voltar para a Europa", diz.
(Matheus Leist venceu as 100 Milhas da Lights)
Mais rápido do que a média, Matheus já recebeu a oportunidade na temporada seguinte, ganhando a chance de fazer 2018 com a Foyt, sendo o caçula do grid com apenas 19 anos. Pode ter parecido precipitado para alguns, mas Leist acredita que era o tipo de chance que não se deixa passar.
"Acho que não foi cedo de forma alguma, era a hora certa para subir, só acho que não foi no lugar certo. Mas era a oportunidade que eu tinha, era melhor fazer um ano de Indy em equipe pequena do que me manter na Lights. No cenário que eu tive, acho que nenhum piloto escolheria seguir na Lights podendo guiar na Indy", afirma.
(Matheus Leist )
O jovem piloto também não guarda ressentimentos da família Foyt. É claro que Matheus esperava ter mais uma chance depois de tanto esforço e de resultados que foram acima dos que a equipe poderia entregar normalmente, mas a falta de patrocínio desenhou um cenário praticamente irreversível.
"Relacionamento sempre foi bom e continua assim. Não tenho nada a falar deles, mas eu esperava… é difícil dizer, quando a equipe perdeu os patrocinadores ficou complicado, entraram em um beco sem saída. Foi quando eu e o Tony praticamente ficamos sem emprego porque eles precisavam de dinheiro e nós não tínhamos. Chegou em um momento em que eu não era mais opção, ainda mais considerando que o [Charlie] Kimball e o [Dalton] Kellett tinham muita grana. Obviamente, eu esperava por todo esforço e dedicação que tive com o time a oportunidade de seguir ou então, mesmo sem ser em 2020, voltar e tentar mostrar algo mais", admite.
Sem conseguir renovar com a Foyt e sem um patrocinador que o bancasse em uma outra vaga no grid, Leist precisou se mexer. Para se manter no radar, seguiu nos EUA, mas agora no SportsCar. Com a JDC-Miller, a chance de fazer algumas etapas no campeonato de endurance em 2020.
"Era minha segunda opção depois da Indy e virou a solução quando eu vi que as coisas não iam para frente na Indy, principalmente com a Foyt em termos de renovação. A JDC me deu a chance de fazer as corridas longas e as coisas deram certo, por enquanto, tudo bem. Tenho um companheiro muito bom que é o Tristan Vautier, além do Juan Piedrahita e do Chris Miller, filho do dono", conta.
(Matheus Leist – JDC-Miller Motorsports)
"Ainda não tenho nada para a Indy 500 em 2020, não tenho patrocínio para me dar essa oportunidade, quem conhece o meio sabe que, para ter uma oportunidade, sem ser titular, tem de basicamente chegar lá e pagar para ter um carro. Não tenho esse patrocínio ainda, então, em 2020, não estarei na corrida", explica.
O que aconteceu com Leist não é novidade e nem exceção para jovens brasileiros nos últimos anos. Cada vez mais, tem sido difícil para os talentos daqui e muito disso tem a ver com a barreira financeira. Para o gaúcho, é o que mais explica o Road to Indy esvaziado e a chance real do país ficar sem pilotos também na Indy nos próximos anos. Em 2020, por enquanto, Kanaan fará ovais com a Foyt, Helio Castroneves a Indy 500 com a Penske e só.
(Matheus Leist venceu em Indianápolis)
"É um cenário preocupante, sim, mas é muito complicado. Tem o dólar, é muito caro e não é só correr, é morar fora do país, se você não tem uma renda, tudo fica caro, é difícil. A tendência, pelo menos no momento, é termos ainda menos pilotos nos EUA e na Europa. É uma pena, o Brasil sempre teve ótimos pilotos, caras muito dedicados, guerreiros, ainda quero ver muitos batalhando, assim como eu, lá fora, tenho certeza que capacidade nós temos para andar de igual para igual, até melhor que pilotos de lá. Desejo muita sorte a todo mundo que segue tentando, precisa ser bem persistente para as coisas começarem a dar certo", reconhece.
O brasileiro não esconde a preferência de seguir nos EUA e, claro, de voltar ao grid da Indy, mas e se não der certo? Sem desesperos, afinal, Matheus é um cara aberto a possibilidades e a Stock Car, por mais diferente que seja de tudo que já conhece, não seria má escolha.
"Sigo aberto a qualquer coisa, meu grande objetivo é continuar sendo piloto profissional e viver disso por muitos anos, então, não fecho portas para nenhuma categoria. Amo automobilismo, amo corrida, se me surgir uma oportunidade de qualquer coisa, vou correr. A Stock Car, para mim, é sensacional, nível altíssimo, pilotos muito profissionais e tenho total interesse. Se tiver oportunidade, gostaria de testar e, se surgisse a chance de correr, também correria na Stock Car", garante.
Com só 21 anos, mas experiências diversas na carreira e emoções das mais distintas vividas dentro e fora das pistas, Leist quer apenas seguir em frente, sem olhar para trás, mas com objetivos bem definidos e um mantra claro de não desistir na primeira adversidade.
"Minha carreira está apenas no começo. Vou me dedicar muito para ser um ótimo piloto e, se Deus quiser, ser campeão e ter ótimos resultados, seja nos EUA, no Brasil, de Indy, de Stock Car, na Europa, na Austrália, não importa, o que importa é estar em um carro de corrida fazendo o que eu gosto. Obviamente, ainda quero ser um piloto vitorioso, campeão de Indy, mas, de qualquer jeito, estarei feliz se estiver correndo em qualquer lugar, é a meta da minha carreira, continuar trabalhando e seguindo forte nos próximos anos".
(Matheus Leist (Foto: IndyCar))
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