A Fórmula 1 fez grande esforço para realizar uma temporada 2020, apesar da pandemia. Isso representou grandes desafios logísticos, desde o GP da Austrália cancelado em março até as viagens ao Oriente Médio em dezembro

Na hora da publicação deste texto, faltam menos de 48 horas para 2020 acabar. Um ano de desafios inéditos, incluindo os longos períodos de isolamento e as concessões para seguir em frente durante a pandemia. Não foi diferente para a Fórmula 1, com o campeonato se encerrando após meses pesados para todos os envolvidos. Só que um desses desafios foi quase um pesadelo: a necessidade de readequar a logística à realidade da Covid-19.

A dificuldade de transportar pessoas, carros e equipamentos foi sentida já no GP da Austrália de março, aquele que nunca aconteceu. A comunidade da F1 se acostumou com a nova realidade, mas a situação não ficou tranquila antes do GP de Abu Dhabi, já em dezembro.

Com 2020 já vendo a bandeira quadriculada na reta – e com muitos desejando que a bandeira preta fosse apresentada antes –, o GRANDE PREMIUM olha para trás e reflete sobre como, apesar dos pesares, a F1 fez o show continuar durante a pandemia.

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Apesar de tudo, a temporada da Fórmula 1 chegou ao fim (Foto: Mercedes)

O primeiro desafio, a bem da verdade, foi saber se seria possível mesmo realizar uma temporada 2020. As provas do terço inicial do campeonato foram todas adiadas ou canceladas. Com a primeira onda da pandemia arrefecendo na Europa, surgiu a chance de abrir os trabalhos no GP da Áustria, em 5 de julho.

Para isso, foi necessário aplicar o sistema de bolhas de isolamento social. Pelo menos no papel, funcionários de uma equipe estavam proibidos de interagir com os de outras. Em alguns casos, como na Ferrari, houve o esforço de dividir os mecânicos e engenheiros de cada carro em duas bolhas diferentes. Isso além do limite de 80 funcionários por escuderia. Esse era o primeiro passo para tornar possível o campeonato e algum sucesso logístico – eventuais casos de Covid-19 não se alastrariam pelo paddock tão facilmente.

Com um campeonato essencialmente europeu, salvo as corridas no Oriente Médio, o transporte terrestre passou a ser chave na F1. Caminhões eram carregados e enviados para corridas, com cuidado redobrado ao alcançar o destino final – o material deveria ser descarregado longe do paddock e empurrado para dentro, evitando que os envolvidos no transporte arriscassem levar o coronavírus ao coração da categoria.

Os funcionários, por sua vez, passaram meses participando de uma operação bem mais delicada: equipes precisaram apelar para voos fretados, com chances maiores de contratempos do que com voos comerciais.

“Normalmente nós viajamos em voos comerciais”, diz Joanna Jones, diretora de viagens da Mercedes, em declarações ao GP*. “Entretanto, pela segurança dos funcionários da equipe, estamos usando voos fretados agora, saindo e chegando em terminais privados. São medidas para reduzir o contato da equipe com outras pessoas. Normalmente temos alguns meses de preparo antes de cada corrida, só que isso virou questão de semanas durante esse ano. Os voos fretados estavam sob alta demanda, então foi necessário agir rápido para ter tudo certo para a equipe”, segue.

O transporte na F1 2020 se tornou essencialmente terrestre (Foto: Reprodução/Twitter)

A boa notícia é que, com corridas sempre perto das sedes das dez equipes, parte dos procedimentos pôde seguir como de costume. 

“Em termos de preparação para as corridas europeias, pouca coisa muda”, destaca Jones. “Enquanto fazemos a classificação em uma pista, já temos uma equipe chegando na próxima para montar a estrutura da garagem. Domingo de noite começamos a transportar as coisas, encontrando já tudo montado e pronto, só precisando desempacotar e ocupar os espaços”, frisa.

Com raras corridas exigindo transporte aéreo, e bem espaçadas entre si, a F1 também deu um jeito de driblar outra dificuldade prevista em 2020. Ao invés de um planejamento que exige meses de preparo prévio, foi possível tocar o campeonato apenas com aviões fretados e cargueiros. A primeira viagem foi rumo a Sóchi, seguida de outra rumo ao Oriente Médio. Com Bahrein e Abu Dhabi separados por pouco mais de 400 quilômetros, foi fácil fazer um breve deslocamento terrestre. Como referência, a viagem entre Spa-Francorchamps e Monza, realizada em menos de uma semana em 2020, é de 1000 quilômetros.

Um pesadelo na Austrália

Antes de tudo eventualmente correr bem na temporada 2020, a F1 passou vergonha no GP da Austrália. A categoria ignorou todos os sinais de que uma corrida normal não seria possível e, pouco antes do primeiro treino livre em Melbourne, cancelou tudo. O motivo foi um caso de Covid-19 na McLaren, essencialmente expondo todo mundo ao redor ao risco de infecção.

Para equipes da F1, foi um pesadelo. Mesmo para os que não pegaram Covid-19. Era hora de fazer ligações necessárias e recorrer aos últimos voos comerciais ainda disponíveis.

O ano começou com o GP da Austrália cancelado (Foto: Ferrari)

“O maior desafio foi, sem qualquer dúvida, logo após o cancelamento do GP da Austrália”, recorda Jones. “A gente tinha aproximadamente 90 pessoas da nossa equipe que precisavam voltar da forma mais rápida e mais segura possível. Trabalhamos até tarde, entrando em contato com agentes, para garantir que tudo corresse bem”, segue.

A Mercedes viu tudo correr bem, mas a situação não foi a mesma na McLaren. Um grupo de funcionários da equipe precisou cumprir 14 dias de quarentena em hotel em Melbourne antes de retornar ao Reino Unido. Depois da dificuldade de encontrar rotas comerciais conectando Europa e Oceania, tudo deu certo. O pesadelo de Melbourne tinha virado coisa do passado.

E quando a vida é normal?

Mesmo em temporadas normais, sem os contratempos causados pela pandemia, não é fácil tocar adiante uma temporada da F1. Na verdade, surgem desafios diferentes: é necessário transportar equipamentos para quase todos os continentes – as Américas, por exemplo. Em casos assim, como também em outros GPs distantes como os do Japão e da Austrália, é necessário o uso de aviões e navios. Empresas parceiras da categoria assumem a responsabilidade de organizar tarefas verdadeiramente hercúleas, como levar equipamento de Singapura para o Brasil, ou do Japão para Abu Dhabi. As equipes apenas desmontam e organizam o material a ser realocado em navios e aviões cargueiros, com o transporte aéreo se provando mais eficiente em anos recentes. De acordo com dados da DHL, parceira logística da F1, uma temporada normal resulta em 132 mil quilômetros percorridos em transporte aéreo. Em outras palavras, pouco mais de três voltas ao redor da Terra.

É aí que entra uma rara vantagem do calendário modificado de 2020: quase todos os GPs, salvo os da Rússia, do Bahrein e de Abu Dhabi, tiveram deslocamento terrestre. Esse é muito mais simples e pode ser conduzido pelas equipes em si, apenas ocupando caminhões com o material necessário para o fim de semana que se avizinha. Como isso também implica em planejamento mais simples e menos tempo perdido, a categoria consegue realizar séries de até três GPs em três semanas – não há, portanto, condições de fazer isso fora da Europa por conta da necessidade de transporte aéreo.

Independente do meio de transporte, os procedimentos são semelhantes. Ao fim de um domingo de GP, tudo precisa estar desmontado e encaixotado. Até mesmo o carro. Enquanto isso, a divisão de logística de cada equipe entra em ação: é hora de checar se está tudo certo para iniciar o transporte. Possíveis contratempos nas estradas ou nas aduanas, por exemplo. Isso vale tanto para a temporada pandêmica quanto para todas as outras.

Os obstáculos serão outros em 2021, com a F1 planejando correr longe da Europa, como no Brasil (Foto: Duda Bairros/Vicar)

O que 2021 reserva?

Apesar do que muitos acreditam, a pandemia ainda não acabou. Muito pelo contrário, com o Brasil lidando com aumentos frequentes no número de infecções e a Europa ainda longe de controlar a já longa segunda onda. Há o risco real, e provável, de a temporada 2021 seguir tão difícil de organizar quanto a de 2020.

No papel, a F1 ainda quer uma temporada normal. Há a previsão de 23 etapas, passando por Oceania, Ásia, Europa e as Américas. Ninguém fala ainda em rever o calendário, apesar de a Fórmula E já abrir precedente com o adiamento do eP de Santiago, originalmente marcado para janeiro.

“É muito difícil fazer previsões sobre o andamento de 2021 porque essa é uma situação ainda incerta”, cita Jones. “Esperamos que o panorama da pandemia seja mais favorável, mas é possível que a situação siga a mesma. Os protocolos internos serão mantidos, isso é certo. A diferença é que o transporte aéreo deve ser mais comum do que na temporada 2020, trazendo desafios diferentes”, destaca.

É que a F1 volta a se afastar demais do continente europeu, algo que não acontece desde o malfadado GP da Austrália de 2020. Será necessário usar aviões e navios cargueiros mais uma vez para transportar equipamento, com voos fretados sendo a aposta para levar funcionários do ponto A ao ponto B. Os riscos são maiores por envolver mais contatos do que em transportes terrestres. O trunfo da categoria é o preparo e a experiência, bem maiores do que no começo da pandemia.

Basta para fazer o show continuar? Talvez. A F1 já conseguiu uma vez, em 2020. Resta ver o que o segundo capítulo da pandemia, o de 2021, reserva para a principal categoria do automobilismo.

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