Em um ano marcado pela pandemia, a MotoGP precisou de um calendário alternativo, mas o remendo não alterou o espetáculo.

A temporada da MotoGP é a marca registrada de 2020. Começando por uma série de adiamentos e cancelamentos, passando por um calendário absolutamente alternativo e pela ausência de um protagonista, a classe rainha fechou o ano em Portugal com um novo campeão, o fim de dois jejuns, novos astros e uma fábrica marcada pela instabilidade.

Não dá para dizer, porém, que os transtornos causados pela remodelação do campeonato diminuíram a qualidade da disputa. Se é verdade que pistas como Assen e Phillip Island fizeram falta na programação, não é menos legitimo dizer que os palcos deste ano deram conta do recado, mesmo aqueles que apareceram como replay, como Jerez, Red Bull Ring e Misano, por exemplo. Portimão, por sua vez, foi uma ótima adição.

Joan Mir levou o título de 2020 da MotoGP (Foto: Suzuki)

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Por outro lado, é claro que a ausência de Marc Márquez, lesionado ainda na primeira corrida, mudou a dinâmica da competição. Sem o hexacampeão, a MotoGP viu outros pilotos assumirem o papel de protagonistas, registrando o recorde de nove vencedores no ano, como em 2016. A falta do espanhol, contudo, em nada diminui a conquista de Joan Mir, o campeão.

É verdade que o espanhol não figurava na lista de favoritos ao título no inicio do ano, mas o jovem de 23 anos fez uma temporada consistente e aproveitou a melhora da GSX-RR para tirar a Suzuki de uma fila de 20 anos. E esse não foi nem o único jejum que caiu em 2020: 13 anos depois do primeiro, a Ducati voltou a conquistar o Mundial de Construtores, numa disputa apertada com Yamaha, Suzuki e KTM. O ano de Bolonha, todavia, não foi nenhum primor, já que todo mundo esperava que, na ausência do mais velho dos Márquez, Andrea Dovizioso tomasse o posto de ator principal.

Na contramão de Ducati e Suzuki, a Honda não teve muito que comemorar. Sem Marc, amargou uma enorme seca de pódios e viu a qualidade da RC213V ser questionada. Ainda assim, Álex Márquez surpreendeu com dois pódios, enquanto Takaaki Nakagami cresceu ao ser alçado ao posto de protagonista.

Do lado da Yamaha, é até difícil explicar o que aconteceu. A YZR-M1 foi a moto que mais venceu em 2020: foram sete triunfos ― três com Fabio Quartararo, três com Franco Morbidelli e um com Maverick Viñales. E, mesmo assim, não dá para dizer que o protótipo dos três diapasões é a melhor moto do grid. Apesar de aparentar evolução, a moto é muito irregular e a equipe de Iwata fechou o ano sem sequer ter a certeza de que o modelo de 2020 é melhor que o de 2019.

Poucas fábricas, porém, são um retrato tão fiel de 2020 quanto a Aprilia. Deu tudo errado em Noale. Depois da animação inicial de Aleix Espargaró com a RS-GP, a moto não se mostrou assim tão competitiva, mas tudo piorou com o caso Andrea Iannone, suspenso por doping desde o ano passado. O time chefiado por Massimo Rivola apostou na inocência do italiano, decidiu esperar o julgamento do caso no Tribunal Arbitral do Esporte, mas o gancho de quatro anos deixou a equipe sem substitutos alternativos.

Os italianos ainda tentaram escalar jovens promessas, mas acabaram rejeitados por três pilotos. Assim, renovaram com Bradley Smith e Lorenzo Savadori, mas não definiram ainda quem será o companheiro de Aleix Espargaró em 2020.

MotoGP terminou a temporada 2020 em Portimão (Foto: Divulgação/MotoGP)

Para avaliar a performance individual de cada um dos pilotos, os jornalistas Juliana Tesser, Nathalia de Vivo e Pedro Luis Cuenca deram notas para os 23 competidores e a média formou o ranking a seguir:

Joan Mir: 9.8
No segundo ano na classe rainha, o piloto de 23 anos apostou na regularidade para faturar o título de 2020. Com sete pódios nas 14 etapas do ano ― uma vitória, três segundos lugares e três terceiros ―, Mir somou 171 pontos e assegurou o título com uma etapa de antecedência. Foi o primeiro título da Suzuki desde 2000, quando Kenny Roberts Jr. foi campeão da classe menor.

Franco Morbidelli: 8.8
O ítalo-brasileiro foi um dos grandes nomes da temporada. O piloto de Roma começou o terceiro ano na MotoGP como o ‘elo fraco da Yamaha’. Ao contrário de Maverick Viñales, Valentino Rossi e Fabio Quartararo, Franco tinha uma especificação inferior da YZR-M1, mas foi justamente ele que fez o melhor trabalho. Com três vitórias, um segundo lugar e um terceiro, o piloto da moto #21 fechou o ano vice-campeão, 13 pontos atrás de Mir.

Álex Rins: 8.7
O espanhol de Barcelona começou o ano com um revés e sequer conseguiu correr na abertura do campeonato, em Jerez, por causa de uma lesão no ombro. Por conta da condição física, o piloto de 24 anos tardou a engrenar, mas com uma vitória e outros três pódios, garantiu a terceira colocação na tabela.

Franco Morbidelli foi um dos grandes destaques da temporada 2020 (Foto: Divulgação/MotoGP)

Miguel Oliveira: 8.4
O português de 25 anos foi o terceiro que mais venceu em 2020. E cada uma das vitórias veio de uma maneira diferente: no GP da Estíria, fez uma bela ultrapassagem na curva final para estrear não só no topo, mas também no pódio da MotoGP; no GP de Portugal, foi tão dominante que conseguiu um grand chelem.

Pol Espargaró: 7.8
O catalão abriu o ano sabendo que faria a turnê de despedida com a KTM, mas a mudança certa para a Honda não tirou a motivação do piloto de 29 anos. A sonhada vitória com a RC16 não veio, mas o irmão de Aleix subiu cinco vezes no pódio pelo terceiro lugar.

Jack Miller: 7.5
Antes mesmo de iniciar a sexta temporada na divisão principal do Mundial de Motovelocidade, o australiano já sabia que trocaria a Pramac pela Ducati em 2021. Ao longo do ano, Jack perseguiu um último presente para a equipe italiana, mas apesar de não ter alcançado o sonho da vitória, foi três vezes segundo colocado e uma vez terceiro.

Takaaki Nakagami: 7
O japonês de Chiba terminou o ano zerado de pódios, mas o salto de performance foi notório em comparação com o ano passado. O piloto da LCR passou a ser mais cobrado pela HRC na ausência de Marc e foi muito mais protagonista que anteriormente. Nakagami até apareceu como favorito à vitória aqui e ali, mas desperdiçou a melhor chance, quando largou na pole no GP de Teruel, mas abandonou ainda nos primeiros metros.

Takaaki Nakagami deu um salto de performance em 2020 (FOto: LCR)

Brad Binder: 6.8
Não é à toa que o sul-africano que foi melhor estreante da temporada. Apesar de ter terminado o ano na 11ª colocação, o piloto de 25 anos surpreendeu ao vencer apenas a terceira corrida da temporada. Mas, apesar da avaliação geral positiva, é preciso ressaltar que o irmão de Darryn não fez um ano muito linear e apareceu mais forte do início do campeonato.

Fabio Quartararo: 6.1
Durante muito tempo, o francês de Nice figurou como favorito ao título de 2020. Com quatro poles e três vitórias, o piloto da SRT Yamaha se destacou ao longo do ano, mas se é verdade que os triunfos foram notáveis, também é fato que irregularidade foi a marca do jovem de 21 anos. Tanto é que ele despencou para a oitava colocação na tabela.

Álex Márquez: 6
Campeão de 2019 da Moto2, o espanhol chegou na MotoGP assombrado pelo título de irmão de Marc. E, antes mesmo de iniciar o campeonato, acabou rebaixado para a satélite LCR em 2021. Ao longo do ano, porém, Álex mostrou que a Honda errou na pouca fé, já que foi o responsável pelos únicos dois pódios da marca na temporada.

Aleix Espargaró: 6
Como sempre, o mais velho dos irmãos de Granollers foi o protagonista da Aprilia. Ainda assim, não dá para dizer que o catalão sai satisfeito com a 17ª colocação na classificação de 2020, especialmente pela animação com a evolução da moto exibida no início do ano.

Fabio Quartararo foi de favorito ao título ao oitavo posto na classificação (Foto: SRT)

Johann Zarco: 5.8
Depois do tumulto que fez com a própria vida em 2019, ao jogar para o alto o contrato com a KTM, o francês ganhou uma nova chance com a Avintia e aproveitou. Além de uma pole, conquisto também um pódio pelo terceiro lugar e uma vaga na Pramac em 2021. E tudo isso com Desmosedici defasada. Mesmo assim, o ano fica marcado por um acidente forte do GP da Áustria, quando derrubou Morbidelli e quase atingiu Valentino Rossi e Viñales.

Danilo Petrucci: 5.5
Mais ou menos é uma boa definição para a temporada do italiano. Depois de vencer pela primeira vez na MotoGP em 2019, Danilo criou expectativas, mas acabou dispensado pela Ducati antes mesmo do início do campeonato. Apesar do desconforto da situação, o piloto, que no ano que vem vai correr com a Tech3, venceu o GP da França, o que rende pontinhos extras na avaliação final.

Andrea Dovizioso: 5.3
Três vezes vice-campeão da MotoGP, o italiano de Forli foi uma das decepções de 2020. Sem Marc, era o favorito claro ao título, mas subiu no pódio apenas duas vezes, uma delas por vitória. Com o ‘climão’ imperando na Ducati, decidiu encerrar as negociações e não renovou o contrato. E acabou sem vaga em 2021. Quarto no campeonato, Dovi fala em ano sabático e espera voltar em 2022. Mas sai de cena em baixa.

Francesco Bagnaia: 5.2
Campeão da Moto2 em 2018, Bagnaia teve a temporada afetada por uma fratura na perna, que o tirou de três etapas. Ainda assim, conseguiu um pódio pelo segundo lugar e garantiu vaga na Ducati em 2021. Ainda que a performance tenha baixado um pouco depois da confirmação da ida para o time oficial.

Maverick Viñales: 4.9
Foi o próprio piloto de Figueres quem resumiu a temporada 2020 como a “pior” da carreira. Apesar de ter conquistado uma vitória e outros dois pódios, o ‘Top Gun’ mais pareceu andar para trás na temporada e chegou até mesmo a culpar terceiros pelo fracasso na escolha de pneus. Não foi mesmo um ano glorioso para o piloto da moto #12.

Valentino Rossi se despediu do time de fábrica da Yamaha após 15 temporadas (Foto: Yamaha)

Valentino Rossi: 4.6
O italiano de Tavullia começou o ano bem e competitivo, o que o motivou o suficiente para acertar com a SRT e assegurar a permanência no grid em 2021. No entanto, o ano está longe de ser positivo. Rossi teve quebra, abandonou três corridas seguidas por queda ― uma, inclusive, quando era favorito à vitória ―, perdeu duas corridas por contrair Covid-19, quebrou de novo quando voltou e fechou o campeonato só em 15º, de longe o pior resultado do piloto de 41 anos no Mundial de Motovelocidade.

Cal Crutchlow: 4.5
O britânico não fez nem de longe uma boa temporada. Ao contrário, aliás. Sem pódios e poles e em um ano marcado por lesões e cirurgias, fechou a temporada só em 18º. Crutchlow, aliás, não estará no grid em 2021, já que optou por encerrar a carreira e vai ser piloto de testes da Yamaha.

Stefan Bradl: 4.3
Piloto de testes da Honda, o alemão foi escalado como substituto de Marc Márquez e acabou disputando 11 etapas. Apesar de conhecer a moto, Bradl foi bem apagadinho e apenas deu o ar da graça no encerramento do ano, em Portimão. Ainda assim, foi só 19º.

Iker Lecuona: 4.3
Estreante, o catalão até merece trégua pela falta de performance, mas como Binder até venceu, a coisa piora um pouco. Além disso, Lecuona perdeu corridas, uma por ter o irmão infectado por coronavírus e outra por ele próprio ter contraído a Covid-19.

Bradley Smith: 3.5
Piloto de testes da Aprilia, o britânico de Oxford foi chamado para assumir a vaga de Andrea Iannone, mas sequer foi efetivamente confirmado, já que a casa de Noale ficou esperando uma volta milagrosa do italiano. E Bradley tampouco conseguiu uma performance de destaque.

Tito Rabat perdeu a vaga na MotoGP mesmo com contrato (Foto: Avintia)

Lorenzo Savadori: 3.1
Também piloto de testes da Aprilia, o italiano substituiu Smith nas três corridas finais de 2020. Abandonou duas e completou uma em 18º.

Tito Rabat: 2
2020 foi a pior entre as cinco temporadas do espanhol na MotoGP. Com só dez pontos, fechou o ano em 22º. Vale destacar, porém, que Tito conta com a pior das Ducati. Para piorar, acabou a pé em 2021 ― mesmo tendo contrato ―, já que o lugar na Avintia será de Luca Marini.

Além das notas de cada um dos pilotos, os três jornalistas também escolheram momentos-chave da temporada:

Miguel Oliveira venceu em Estíria com a melhor ultrapassagem do ano (Foto: Tech3)

Melhor GP: GP da Estíria
Em uma votação unânime, a segunda das provas do Red Bull Ring foi a mais bem avaliada no ano. Afinal, foi decidida só nos metros finais. E mesmo que tenha sido interrompida por causa de um acidente feio de Maverick Viñales.

Melhor ultrapassagem: Miguel Oliveira no GP da Estíria
Também com 100% dos votos, o ‘passão’ do português em Jack Miller e Pol Espargaró para assegurar a primeira vitória da carreira na MotoGP foi o mais bem avaliado.

Surpresa do ano: Suzuki/Joan Mir e Alex Márquez
Neste tópico, a banca avaliadora se dividiu entre o bom ano de Joan Mir e a Suzuki e os dois pódios de Álex Márquez. Lá no início do ano, estes não eram resultados esperados.

Decepção do ano: Andrea Dovizioso, Valentino Rossi e Fabio Quartararo
Embora sejam três nomes diferentes, a causa é uma só. Seja pelo passado ou pelo que aconteceu no início do campeonato, todo mundo esperava mais do que os três pilotos fizeram.

Ponto alto da temporada: Morbidelli, título de Joan Mir e primeira vitória da KTM
Outro quesito que provocou divisão no GP*. Ainda assim, as três escolhas fazem muito sentido, já que Morbidelli, Mir e KTM foram dos grandes destaques da temporada.

Ponto baixo da temporada: Segurança no Red Bull Ring
Apesar de ter sediado a melhor corrida do ano, o circuito austríaco também foi o palco do momento mais assustador da temporada. No GP da Áustria, Johann Zarco derrubou Franco Morbidelli e as duas motos cruzaram a área de escape, passando muito pertinho de atingir as cabeças de Valentino Rossi e Maverick Viñales.

Acidente com Johann Zarco foi um dos momentos mais assustadores da temporada (Foto: Divulgação/MotoGP)

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