Num esporte onde o cuidado do corpo é sempre uma obsessão, a saúde mental muitas vezes acaba despercebida. Mas, afinal, o atleta está imune a doenças como depressão, ansiedade e síndrome do pânico?

Quando falamos de um piloto, seja de carro, seja de moto, a primeira coisa que se pensa na preparação para entrar na pista é o treino físico. Conseguir massa muscular para aguentar o peso da máquina, resistência para completar uma corrida, enfrentar frio e calor extremo para se acostumar com as condições adversas e, no fim, deixar o corpo preparado. Mas são poucos os que incluem um importante ponto de atenção: a cabeça.

A saúde mental é uma preocupação que tem se tornado cada vez mais recorrente no mundo atual. Doenças como depressão e ansiedade, síndromes como burnout e tantas outras, estão, aos poucos, entrando na pauta de discussão e ganhando a devida importância.

E no esporte a motor, a atenção deve ser redobrada. Envolvidos em um ambiente de pressão, os esportistas são constantemente cobrados a entregar resultados que, vez ou outra, não são capazes de encontrar.

Recentemente, o caso de Johann Zarco ganhou espaço na mídia. Contratado pela KTM por dois anos, o francês não vinha conseguindo ser competitivo em sua temporada de estreia. Declaradamente infeliz, o #5 pediu para encerrar o acordo ao final do campeonato atual e, pouco depois, foi substituído por Mika Kallio no restante das provas da MotoGP.

Em uma época em que a questão mental ganha mais e mais espaço, o GRANDE PREMIUM foi atrás de psicólogos do esporte, psiquiatras e pessoas fortemente envolvidas com o esporte a motor para entender um pouco mais qual a verdadeira importância da saúde mental entre os esportistas.

“Precisamos entender que a preparação psicológica, assim como a preparação física, é fundamental para que o atleta atinja o melhor desempenho sem que tenha nenhum tipo de prejuízo ou, pelo menos, que consiga ter o menor grau de prejuízo possível. Como bem sabe, ser atleta não é nada saudável”, indica Ricardo Picoli, psicólogo esportivo do Núcle SCORE e membro da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte. “É uma pressão muito grande. O automobilismo, por exemplo, é um esporte de muito risco, é um esporte muito visado, tem muita visibilidade, tem uma pressão muito grande. Então a preparação psicológica é algo que integra toda a preparação do esportista. Não se pode mais ficar falando sobre a preparação só a física”, segue.

No esporte a motor, a preocupação com o físico é uma constante em todas as categorias (Marc Márquez (Foto: Repsol))

Quem segue o discurso é Victor Thompson, médico na Clínica de Psicologia Esportiva, em Londres. “A saúde mental é vital. Por exemplo, se você está irritado, bravo, distraído, para baixo, deprimido ou ansioso, não vai ter uma boa performance. As saúdes mental e física são ambas vitais e interligadas. O apoio psicológico ou aconselhamento podem ser muito úteis em diversos momentos, como quando o esportista se torna obcecado por seu desempenho em comparação com os outros, com o que os outros estão fazendo.”

“Ou então o atleta se torna excessivamente preocupado ou ansioso por seu desempenho ou amplificando como outro adversário está indo. É importante que um esportista, e também aqueles a sua volta, não sejam altamente otimistas ou pessimistas. Ambas os extremos podem ser bastante prejudiciais”, emenda Thompson ao GRANDE PREMIUM.

Ricardo ainda explica a relação entre a saúde mental e o nível de atuação do esportista dentro de sua especialidade. “Para um atleta chegar a um rendimento de um nível esportivo como, por exemplo, atualmente o [Lewis] Hamilton ― claro que o rendimento no caso do automobilismo não está dependendo somente do piloto, pois ele está em uma máquina e, às vezes, a máquina falha e, enfim, o piloto não tem nada o que fazer nem que esteja em sua melhor preparação.”

“Mas, muitas vezes, para você atingir o rendimento tão alto é preciso abdicar de muitas coisas. Nós, de cara, não temos noção do quanto a pessoa está abdicando, se doando para atingir aquele nível. Muitas vezes nessa doação, nessa fissura de tentar atingir esse nível, acaba sofrendo, acabando com a saúde mental para atingir o melhor rendimento. O que a gente vê também é que esse bom rendimento é complicado de ser falado. O que é um bom rendimento? Você pode ir pela via do resultado, pela via da meta, pela via da equipe, o que a equipe quer”, continua.

“Até entendermos o que é esse rendimento esportivo, é complicado de fazer essa relação com a saúde mental propriamente. O que posso dizer é que uma boa saúde mental faz com que o atleta entre mais bem preparado para lidar com todas as pressões, para lidar com todas as mazelas, e também poder saborear, poder aproveitar tudo aquilo o que ele entende que é positivo para ele dentro daquela situação”, completa.

Entretanto, o assunto não é encarado com tanta naturalidade quanto se deveria, visto como um grande tabu e ainda cercado de muito preconceito por parte de equipes e esportistas, ainda que o cenário esteja começando a mudar.

“É muito encarado como tabu, pois muitos acreditam que devemos mostrar que somos fortes, sabemos lidar, estamos indo bem. Esportistas podem sentir medo de não serem tão bons para marketing ou que os adversários vão explorar essa fraqueza. Por sorte, alguns atletas tem começado a mostrar que está tudo bem admitir que está sofrendo e deprimido, mas ainda temos um longo caminho a seguir para assegurar que é aceitável ver um psicólogo, assim como um psicoterapeuta”, fala Thompson.

O São Paulo é dos times que contam com psicólogo disponível para o elenco (O time do São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook/SPFC))

O exemplo das quatro linhas

Esporte mais popular do Brasil, o futebol serve como amostra da atenção dada à saúde mental dos atletas. O São Paulo Futebol Clube, por exemplo, lista uma psicóloga como integrante de sua comissão técnica: Anahy Couto.

Especialista em Psicologia do Esporte pelo Conselho Federal de Psicologia, Anahy acompanha o dia-a-dia do Tricolor e tem sempre as portas abertas para ouvir os atletas.

“O meu trabalho é sempre buscar a qualidade de vida e de bem estar, tanto emocional quanto mental, dos atletas. De todo mundo, não só atleta, mas a equipe técnica, funcionários, todas as pessoas”, diz Anahy ao GRANDE PREMIUM. “É garantir que esse ambiente de estresse que a gente vive, de competitividade, não seja algo prejudicial à saúde do atleta, para a saúde emocional das pessoas de maneira geral”, segue.

“Eu estou aqui todos os dias, estou sempre em processo de observação, conversando com todos”, comenta. “A gente trabalha a alta performance, então é regular as emoções para que o atleta consiga executar o que ele deseja, que as emoções não o atrapalhem. Você trabalha as metas, trabalha os valores deste atleta, o trabalho em equipe ― que aqui é muito forte ―, assim por diante”, lista.

Embora parte da sociedade ainda tenha resistência em buscar um psicólogo, Couto garante que esta não é uma realidade no time agora treinado por Fernando Diniz.

“Eu já estou aqui há muitos anos, então aqui é muito natural. Eu estou aqui todos os dias, uniformizada, há muitos anos, então é algo que, para os atletas, é muito comum”, relata.

Questionada pelo GP* se momentos como a eliminação de uma competição ou a perda de um pênalti demanda uma atenção especial, a psicóloga explica que os atletas estão mais do que acostumados a lidar com essas situações.

“Eles são preparados para isso em todas as categorias de base, então para eles isso é um cenário comum da profissão. Seria como se a gente falasse assim: ele é um motorista e erra o caminho”, compara. “São coisas assim, desafios e obstáculos que ele tem no dia-a-dia, mas que, desde a base, ele foi treinado, então para o atleta isso não é diferente da rotina dele. O ganhar ou perder faz parte da rotina”, lembra.

Psicóloga apontou as lesões como fator que mais abala os atletas (O time do São Paulo (Foto: Reprodução/Facebook/SPFC))

“Agora, claro, a gente trabalha para perder o mínimo possível. Têm atletas que se abatem porque perderam, mas é como um grande executivo não ter fechado um negócio. Isso é algo que chama mais atenção fora do que dentro”, aponta.

Muito embora atletas que falam abertamente sofrer de depressão venham ganhando mais e mais espaço na mídia ― como aconteceu, por exemplo, com o nadador Michael Phleps, o ginasta Diego Hypolito e os jogadores de futebol Pedrinho, Cicinho e Nilmar, por exemplo ―, Anahy reitera que esse não é um problema do esporte, mas de toda a população.

“É comum na sociedade. Em qualquer área. Você vê muitos cantores passando por isso, você vê muitos comediantes passando por isso, você vê atletas, você vê médicos, você vê donas de casa… Por quê? Por que é um problema da sociedade”, insiste. “A gente, nessa época, vive um momento de muita depressão, muita ansiedade, síndrome do pânico. São doenças que são do momento, da fase que a gente vive. Não é que o atleta tem mais. A sociedade é que tem um número maior disso”, aponta.

Em 2016, por exemplo, uma pesquisa divulgada pelo FiF PRO, o sindicato internacional de jogadores, apontou que um terço dos atletas de futebol em atividade sofre ou já sofreu de depressão.

No meio do esporte, as lesões são o principal gatilho. Ex-Vasco, Palmeiras e Santos, Pedrinho já falou abertamente sobre os efeitos das lesões em sua saúde mental. O ex-jogador, aliás, também reconheceu que tinha preconceito com depressão.

“Quando eu fui diagnosticado ― mérito para o [Vanderlei] Luxemburgo ―, eu já estava em estágio avançado, já era uma depressão profunda. Eu morava sozinho, então chamaram a minha família para morar comigo e eu passei a tomar 14 comprimidos. Foram uns dois ou três anos tomando remédio”, contou o ex-meia durante uma entrevista ao programa ‘Bola da Vez’, da ESPN Brasil, em agosto passado. “Eu tive depressão e quatro cirurgias no joelho. Se eu tivesse que escolher, hoje, eu escolheria as quatro cirurgias, porque a depressão é muito grave”, comentou na época.

Acostumada ao ambiente de um clube de futebol, Couto reconhece que as lesões são um marco na saúde mental dos atletas. Questionada pelo GRANDE PREMIUM sobre o aspecto que mais derruba um jogador, a psicóloga não titubeou: “A lesão. Porque a lesão tira a identidade dele. Tira o lugar onde ele se sente mais seguro, onde ele tem tudo, que é dentro de campo. O atleta lesionado fica muito frágil”.

“O atleta fora de campo perde o que ele sabe fazer, a chance de fazer o melhor dele”, comenta.

Clinica Mobile presta atendimento aos pilotos em todas as etapas da MotoGP (Clinica Mobile em Jerez (Foto: Mateusz Jagielski))

Clinica familiar

Dentro do esporte a motor, os pilotos de moto provavelmente são os mais sofrem lesões. Mais expostos, já que não contam com a proteção de células de sobrevivência, são poucos os que conseguem passar pela temporada sem sofrer lesões ― de maior ou menor gravidade.

No Mundial de Motovelocidade ― e também no de Superbike ―, os pilotos contam com a atenção constante da Clinica Mobile, uma instalação itinerante que está sempre pronta para atendê-los.

Na ativa no paddock da MotoGP desde o GP da Áustria de 1977, a clinica fundada pelo hoje aposentado Dr. Claudio Costa se expandiu ao longo dos anos e hoje conta com área de atendimento, salas de fisioterapia e traumatologia, máquina de raio-x e, em caso de necessidade, ainda é possível transformar o espaço em uma ala de cirurgia emergencial.

Mais do que acostumado a lidar com os pilotos, o diretor-médico da Clinica Mobile, Michele Zasa, reconhece que os membros do paddock não dão à saúde mental a mesma importância que dão à saúde física. Ainda assim, o médico não considera esse um ponto preocupante.

“Não acho que saúde mental é algo com que os pilotos se preocupem e não acho que seja uma grande emergência no paddock”, diz Zasa em entrevista ao GRANDE PREMIUM. “No entanto, concordo que, assim como em outros esportes, nós precisamos cuidar da saúde mental”, segue.

Zasa alerta, no entanto, que, além da preocupação com aqueles com sofrem perda de desempenho, os pilotos que deixam as competições exigem certo grau de atenção, já que a mudança brusca de estilo de vida pode cobrar um preço.

“Prefiro pensar que, neste, como em outros esportes, existe um risco de entrar em depressão. Isso pode acontecer com pilotos habituados a vencer, se ele não consegue vencer mais. Além disso, depois de uma carreira neste empolgante esporte, o risco pode se apresentar ao fim da carreira se eles não conseguirem encontrar interesses diferentes ou continuarem nesse ambiente com um papel diferente”, alerta.

Apesar de sua ampla estrutura, a Clinica Mobile, que conta com quase uma dezena de médicos, não possui um psicólogo de plantão.

“Eu concordo que a infraestrutura médica da MotoGP é de muito alto nível, mas ter um especialista para todos os tipos de especialidades ― inclusive um psicólogo ― é uma utopia”, avalia.

Zasa, entretanto, trabalha em um programa de treinamento neurocognitivo que pode abrir as portas do Mundial para este profissional.

“O lado mental da performance esportiva é um questão muito importante. Concentração, habilidade de executar múltiplas tarefas, memória de trabalho, exercícios de imaginação, são apenas algumas das muitas propriedades cognitivas que podem ser treinadas, proporcionando melhores performances em qualquer campo esportivo”, aponta. “Eu, pessoalmente, estou envolvido nessa questão, já que estou desenvolvendo, junto com um psicólogo, um programa de treinamento neurocognitivo dedicado a atletas em todos os tipos de esportes”, conta.

“Entretanto, é difícil dizer se o lado mental é uma prioridade em todos os esportes. Pense num esporte como corridas de moto: eu diria que prevenção de lesões e serviços médicos de emergência de pista são uma questão mais importante em um esporte onde você corre em uma velocidade incrivelmente alta”, avalia.

Diretor-médico da Clinica Mobile, Michele Zasa acompanhou Valentino Rossi em recuperação (Valentino Rossi e Michele Zasa (Foto: Divulgação))

Em um paddock onde a idade dos pilotos varia entre 16 e 40 anos de idade, Zasa acredita que o ambiente familiar da Clinica Mobile se apresenta como de grande ajuda, ainda que entenda que os mais novos já estão preparados para aquele mundo por conta da passagem por categorias de base.

“Estar aqui como adolescente significa que ele já passou por algum tipo de seleção natural. Para estar aqui, você não só precisa ser rápido, mas também focado, determinado e, definitivamente, equilibrado se quiser ser bem sucedido”, opina Michele. “No entanto, na Clinica Mobile nós fornecemos a todos os pilotos um ambiente familiar para relaxar e ficar distante da pressão durante os muitos fins de semana longe de casa. Normalmente, eles vêm até nós quando não têm nenhuma necessidade médica especial, apenas para ficarem conosco, bater um papo, assistirmos TV juntos. Graças a isso, nós somos muito próximos dos pilotos e podemos dar a eles uma palavra de apoio quando precisam, especialmente para os mais jovens”, sublinha.

Embora o risco de morte exista no esporte a motor, as fatalidades são hoje muito menos recorrentes do que eram no passado. Mas, quando acontecem, Zasa entende que a Clinica Mobile não é o melhor lugar para que os pilotos busquem suporte emocional profissional.

“Felizmente, o esporte a motor é hoje em dia um esporte muito mais seguro e os índices de mortalidade são comparáveis aos de outros esportes que normalmente não são considerados de risco”, fala. “Não é possível para nós fornecermos uma ajuda profissional nessa questão e, por conta de restrições de tempo durante os fins de semana de corrida, preferimos sugerir que os pilotos afetados por esses eventos tentem encontrar ajuda em casa, trabalhando com profissionais”, explica.

Em momentos trágicos, no entanto, os pilotos não são os únicos a sofrerem. Todo o paddock acaba afetado. Foi o que aconteceu, por exemplo, na morte de Luis Salom, em Barcelona, em 2016.

“No caso dessas tragédias, não devemos nos importar apenas com os pilotos, mas também com os funcionários do paddock. Luis, por exemplo, estava sempre na Clinica Mobile, e a morte dele foi um choque para mim e para o meu time”, admite. “Os funcionários do paddock também são afetados por essas tragédias e também podem precisar de algum apoio profissional”, reconhece.

Pelo regulamento do Mundial, os pilotos precisam se submeter a um teste físico quando voltam de lesões como fraturas, por exemplo. Questionado pelo GRANDE PREMIUM se deveria existir um processo similar para pilotos voltarem à pista após eventos traumáticos ― como a morte de um companheiro de equipe ou o envolvimento em um acidente fatal ―, Zasa respondeu: “Graças ao ótimo trabalho que foi feito em termos de prevenção, acidentes fatais não são tão comuns hoje em dia. Em casos como os que você mencionou, acho que não é realista padronizar um teste para o piloto ser liberado para pilotar outra vez”.

“Não acho que possamos forçar um piloto a passar por aconselhamento obrigatório, embora alguns possam precisar desse apoio”, declara. “De qualquer forma, na minha opinião, parte do tratamento para superar tais tragédias é voltar à pista o mais cedo possível”, indica.

Indagado pelo GP* se depressão é um assunto dentro do Mundial de Motovelocidade, Zasa admite: “Não acho que exista uma atenção real à depressão no paddock”.

“Todavia, no que diz respeito ao esporte profissional ― não importa o tipo de esporte ―, a depressão é algo a ser tratado”, reconhece. “Alguns atletas acostumados a vencer e incapazes de lidar com a derrota podem entrar em depressão quando começam a ter dificuldades. Uma das coisas que ouvi de atletas é que uma vitória não parece tão boa quanto uma derrota parece ruim, e uma sensação boa não dura tanto quanto uma ruim”, conta.

“Além disso, depois de uma vida cheia de empolgação, ter de terminar a carreira e não conseguir reproduzir emoções fortes pode ser difícil para um atleta”, fala Michele.

Por fim, o diretor-médico não quis falar especificamente do caso de Johann Zarco ― uma vez que não se envolveu na questão do piloto da KTM ―, mas reforçou que as portas da Clinica Mobile estão sempre abertas para oferecer amparo aos membros do Mundial.

“Acho que é importante que um piloto tenha um rosto familiar por perto, família e/ou amigos. Acho que conversar com eles e, possivelmente, com o pessoal da Clinica Mobile, já que somos vistos como uma segunda família, pode ser um passo para conseguir algum apoio em momentos de necessidade”, aponta. “Se o piloto precisar de ajuda profissional, considerando as restrições de tempo dos pilotos durante os fins de semana de corrida, acho que a melhor opção seria procurar ajuda fora do fim de semana de corrida, em casa”, completa

Tatiana Calderón admitiu que foi difícil voltar às pistas após a morte de Anthoine Hubert (Calderón e Hubert (Foto: Reprodução/Twitter))

Hora de seguir em frente

Apesar de muito menos frequentes, as tragédias seguem existindo no mundo do esporte a motor. No fim de agosto, por exemplo, Anthoine Hubert morreu após um forte acidente em uma corrida da Fórmula 2 em Spa-Francorchamps.

Naquele fim de semana, o restante da atividade foi suspensa, mas os pilotos da categoria voltaram à ativa na semana seguinte, em Monza. Inclusive Tatiana Calderón, companheira do francês na Arden.

Ao GRANDE PREMIUM, a colombiana contou que sempre teve atenção com sua saúde mental, especialmente quando se mudou para a Europa.

“Há alguns anos, eu não dava tanta atenção à saúde mental quanto dou hoje, provavelmente porque, quanto mais alta a escada, mais alta a competição, você tem mais e mais pressão e cada detalhe conta. Acho que está tudo ligado”, considera. “Naturalmente, quando você está em forma e come bem, você se sente muito melhor, mas se você não está feliz ou tem dúvidas, medos, você não é capaz de atuar no seu máximo. Eu diria que o treinamento deveria ser 50-50, com o lado físico e mental do esporte”, continua.

“Desde que mudei para a Europa, há oito anos, tenho um psicólogo esportivo”, conta. “Para mim, foi difícil sair de casa, me adaptar a uma cultura diferente e um nível diferente de competição em relação à América do Sul, então foi uma parte muito importante da minha carreira e do meu desenvolvimento”, reconhece.

Questionada pelo GP* se costuma pensar nos riscos do esporte que pratica, Calderón foi clara: “Para ser honesta, nunca pensei nos perigos do esporte. É só em corridas como em Spa-Francorchamps neste ano que você percebe e coloca em perspectiva o que você faz. Eu amo o esporte a motor e não tem nada que possa mudar isso ou a maneira como me sinto”.

Ainda, Tatiana falou diretamente sobre a morte de Hubert e declarou que encarou os fatos da maneira que acha que seu companheiro de equipe gostaria que ela fizesse.

Tatiana Calderón conta com o apoio de um psicólogo esportivo desde que mudou para a Europa (Tatiana Calderón (Foto: Reprodução/Twitter))

“Foram semanas muito difíceis para toda a família do esporte a motor. Não consigo imaginar a dor pela qual a família dele está passando. Nós sempre sentiremos a falta dele, mas sou muito grata por tê-lo conhecido e passado os últimos anos competindo com ele. Aprendi muito com ele neste ano e vou levar isso para sempre”, diz. “Com certeza, vejo a vida e o esporte de uma maneira diferente agora. É uma lição para viver a vida ao máximo”, sublinha.

“A minha maneira de lidar com isso foi seguir perseguindo os meus sonhos e metas da maneira como eu sei que Anthoine gostaria que eu fizesse. Ele era um verdadeiro lutador”, exalta.

Também, Tatiana reconheceu que o fim de semana em Monza foi difícil, especialmente nas primeiras voltas.

“Foi difícil voltar nas primeiras voltas e, para ser honesta, todo o fim de semana em Monza foi extremamente duro para todo mundo, mas isso me fez pensar muito e apreciar mais o que eu faço”, reconhece. “A gente às vezes esquece de ver o quão longe chegamos e de curtir cada dia como se fosse o último. Eu amo o que faço e vou continuar correndo até não ser mais feliz fazendo isso”, assegura.

Por fim, ao ser questionada pelo GRANDE PREMIUM sobre o tipo de suporte que a Fórmula 2 ofereceu após o desfecho trágico do fim de semana na Bélgica, Calderón exaltou a união do paddock.

“Nos ofereceram para falar com um especialista em Spa. Mas, pessoalmente, eu prefiro falar com as pessoas que eu já conhecia, meu psicólogo ou a minha família”, contou. “São nesses momentos difíceis que você quer ter a sua família mais perto e eu tive sorte de ter os meus pais comigo em Spa e Monza”, segue.

“Além disso, no paddock nós temos um apoio incrível de todos, foi muito legal ver como ficamos fortes juntos. O esporte a motor é realmente uma família”, conclui.

As saúdes mental e física são ambas vitais e interligadas

Entenda e conheça a depressão

‘Depressão é a doença do século’. Muitos já devem ter lido ou esbarrado com essa frase ao menos uma vez nos últimos tempos. Com a saúde mental entrando cada vez mais em foco e recebendo mais atenção, é importante sempre ficar de olho em possíveis sinais que, ainda que pequenos e quase imperceptíveis, indicam uma necessidade maior de cuidado e zelo.

A tristeza é um sentimento natural do ser humano. Quando passamos por situações de estresse, luto, rejeição, brigas ou fracasso, normalmente nos sentimos abatidos e deprimidos, mas é apenas questão de tempo até que a situação se normalize e comecemos a nos sentir ‘normais’ de novo.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2015, mais de 320 milhões de pessoas vivem com depressão ao redor do mundo. A doença não é momentânea e quase nunca depende de um ‘gatilho’ para se manifestar. Sintomas como baixa autoestima, perda de energia, falta de autoconfiança, irritabilidade e impaciência costumam aparecer naqueles que precisam buscar uma ajuda profissional.

Também é importante frisar que a depressão existe em diversos níveis, desde a mascarada, que é quase imperceptível, até as mais graves, que colocam em risco a vida da pessoa. A Associação Psiquiátrica Americana alerta que é fundamental se tratar para que não haja a permanência dos sintomas.

No livro ‘A tristeza transforma, a depressão paralisa’, o psiquiatra Neury José Botega ressalta que “mesmo pessoas que sempre foram dinâmicas, alegres e otimistas podem sofrer de doenças, inclusive de depressão. Não são apenas os indivíduos mais ‘frágeis’ que ficam deprimidos”.

No Brasil, os números da doença chegam a impressionar. 5,8% da população do país sofre com depressão, o que se aproxima a 11,5 milhões de pessoas. Além disso, mais de 18 milhões, algo como 9,3% da população, têm distúrbios relacionados à ansiedade ― todos dados da OMS.

Ainda de acordo com o psiquiatra, a depressão afeta a capacidade das pessoas de realizarem tarefas que demandam esforço intelectual. “Fica difícil se concentrar, memorizar, raciocinar, tomar decisões”, escreve Botega no livro publicado em 2018 pela editora Benvirá.

Doutor em Saúde Mental, Botega alerta ainda que, “força de vontade não cura depressão”. É muito comum que a pessoa deprimida sofra cobranças daqueles com quem convive, o que apenas faz sentir-se pior. “Não quer dizer que a pessoa deprimida não quer se ajudar ou não aceita a nossa ajuda; ela simplesmente não consegue reagir”, escreve.

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