Bruno Crivilin escolheu passar sobre duas rodas por cima dos obstáculos que apareceram em seu caminho para voltar da competição internacional com a terceira colocação na sua categoria: ‘Quando era criança, não tinha muita noção do que era possível’, disse o capixaba de 23 anos

Se a vida caminhasse por um asfalto liso, ele preferiria acelerar por trilhas de terra. Se não tivesse uma moto, ele mesmo montaria uma a partir de peças descartadas em uma oficina. E esse foi de fato o começo do nome brasileiro hoje no Mundial de Enduro da FIM (Federação Internacional de Motociclismo), que terminou no último final de semana, em Portugal. Bruno Crivilin, de 23 anos, escolheu passar sobre duas rodas por cima dos obstáculos que apareceram em seu caminho para voltar da prestigiada competição com a terceira colocação geral da sua categoria, com quatro pódios, sendo uma vitória.  

Crivilin, que pilota uma Honda CRF 250RX e teve na Europa um apoio quase familiar da S2 Motorsport, do italiano Alex Salvini, encerrou a última etapa de Marco de Canaveses, 60 km a leste do Porto, com uma medalha de bronze na categoria Júnior 1 — na etapa anterior, uma semana antes, ele havia ficado pela primeira vez no campeonato com o lugar mais alto do pódio. As boas colocações o jogaram para a sétima posição geral na Júnior (também para pilotos até 23 anos, mas com motos acima de 250 cc), categoria em que irá estrear em 2021.

Bruno Crivilin, Mundial Enduro 2020,
Crivilin conquistou quatro pódios, sendo uma vitória no Mundial (Foto: Janjao Santiago/Divulgação/Mundo Press)

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Mas a história do piloto que veste as cores da Honda e compete com um capacete da Red Bull, marcas que exigem sempre o melhor de seus atletas, começa bem antes das provas de 180 km entre barro e pedra, debaixo de um tempo chuvoso e frio por França e Itália, além de Portugal. Dez anos atrás, quando começava a desistir de uma carreira no futebol, o menino encostou sua bicicleta na oficina mecânica do tio em Aracruz, a 80 km ao norte de Vitória (ES), e começou a se interessar pelo o que via ali. Era um misto de passatempo e trabalho, que despertou a arteira ideia de ter uma moto a partir do chassi de uma Yamaha DT-180.

“Eu via umas motos desmontadas, ficava olhando… Sem ter muita ideia, comecei a montar uma peça e outra. Tive ajuda do meu primo, dos meus amigos, fui encontrando mais peças, até que chegou o ponto em que alguém falou: ‘se você conseguir montar essa moto, a gente te ajuda com o motor.’ Tinha juntado um dinheiro, tinha um celular na época, um relógio legal e ainda consegui R$ 200, que foram o suficiente para comprar o motor e equipar aquela minha moto que foi feita a partir de peças de outras três motos diferentes”, lembrou Crivilin.

Bruno Crivilin, Mundial Enduro 2020,
Capixaba montou primeira moto a partir de peças descartadas na oficina do tio (Foto: Janjao Santiago/Divulgação/Mundo Press)

Apesar da moto, o menino ainda era uma criança fazendo trilhas com adultos, e não conseguia exatamente acompanhar o tempo dos mais velhos. Para piorar, os pais levaram um susto até realmente compreender que aquilo era o que o garoto amava e passava a praticar todos os finais de semana. Pois o tempo foi passando, os tempos foram baixando e até que veio o convite para competir o Estadual, em 2013. O título na categoria estreante foi a porta de entrada para as tantas outras conquistas. Logo em 2014, a equipe Honda o colocou no Brasileiro, competição pela qual foi vice-campeão logo de cara. A profissionalização veio no ano seguinte, com a equipe Orange BH KTM Racing.

“Quando a gente é pequeno, a gente sempre sonha. Mas não tinha muita noção do que era possível. Depois que foi passando o tempo, que comecei a aprender, entendi que era capaz. Era só trabalhar duro, ter força de vontade, ter as pessoas e patrocinadores certos. Estou realizando muito dos meus sonhos”, disse.

Irmãos que a vida deu

Crivilin é atualmente seis vezes campeão brasileiro e principal nome do enduro no país. Os últimos resultados deixaram o capixaba convicto que suas experiência no motociclismo europeu o fazem crescer cada dia mais. É como se o seu talento recuperasse um tempo perdido entre os profissionais, já que os seus principais adversários, em geral, começaram com minimotos antes mesmo dos cinco anos. Por isso, para a próxima temporada, ele pretende voltar para novos desafios em pistas pelo mundo. Se possível, em um calendário completo e não reduzido à metade como na pandemia do novo coronavírus.

“Estou muito contente, bem feliz mesmo. A meta que a gente tinha traçado com a equipe, com os patrocinadores, era que eu tinha uma chance de ficar entre os três primeiros. Mas era uma chance. E consegui. Na primeira etapa, fiquei em sétimo e tomei um choque. Já no segundo dia fiquei mais tranquilo, fui ao pódio e acendeu de novo aquela chama e percebi que era possível”, disse o piloto, que agradeceu por cada momento que teve com o experiente Salvini, 13 vezes campeão italiano, campeão mundial em 2013. “Ele me abrigou dentro da casa dele, com a mulher, com o filho. Foi um cara fantástico que me mostrou de verdade os caminhos por que aqui o nível é extremo e o ritmo de corrida é muito forte.”

Bruno Crivilin, Mundial de Enduro,
Piloto planeja de novo correr temporada na Europa em 2021 (Foto: Janjao Santiago/Divulgação/Mundo Press)

Se Salvini de certa forma conduz a carreira do jovem brasileiro na Europa, uma outra pessoa conduz a carreira do piloto, agora, em outro plano. Ainda triste pelo acidente que tirou a vida de Tunico Maciel, de 26 anos, na última edição do Sertões, no início deste mês, Crivilin carrega com ele a convicção de que o amigo deu muita força entre a terceira e a quarta e última etapa do Mundial. Tunico, que havia acabado de ser campeão do Brasileiro de Ralli Cross-Country, sofreu uma queda quando lutava pelo título da principal competição off-road do país.

“O Tunico foi um irmão que a vida me deu. Mais do que isso. A família dele foi uma família que a vida me deu. A gente se conheceu em 2015, morei por quase quatro meses na casa dele e a gente tinha uma ligação muito forte um com o outro. Nunca tinha perdido alguém tão próximo a mim e foi realmente muito difícil entre uma etapa e outra. Acredito que ele, que era um cara muito forte fisicamente e emocionalmente, me deu muita força para encarar uma etapa muito dura em Portugal, com muito trilho, muita lama, que era para ser de seis horas. Senti uma força muito grande de mim e que veio dele. Tenho certeza”, completou o piloto.

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