Gianluca Petecof viveu um segundo semestre abaixo das expectativas e terminou longe dos objetivos traçados. Aos 17 anos, o piloto analisa o que deu certo e errado, os ensinamentos que o ano difícil trouxe na F4 e planeja o próximo passo na carreira: a F-Regional Europeia em 2020

Ao terminar 2018 como revelação nas temporadas das F4 Italiana e Alemã, Gianluca Petecof carregava uma expectativa para o ano que estava prestes a começar: buscar os títulos das duas competições em 2019. E tudo começou conforme o script, com vitórias em Oschersleben, na Alemanha, e em Vallelunga, na Itália. Mas o ótimo começo e a boa jornada no primeiro semestre contrastaram com uma queda abrupta na segunda parte do calendário.

Quando se analisa a temporada pelos números, a primeira conclusão que se tem é que o ano de Gianluca foi bem ok, mesmo com as expectativas traçadas no início do ano não concluídas. Afinal, o piloto, membro da Academia Shell Racing e da Academia da Ferrari, foi vice-campeão da F4 Italiana, com direito a quatro vitórias, e foi o quinto na fortíssima F4 Alemã, com um triunfo e um total de cinco pódios.

Entretanto, passados pouco mais de dois meses do fim da temporada, Petecof faz uma análise global do que aconteceu. Com uma maturidade que chama a atenção para um piloto de apenas 17 anos e com apenas duas temporadas de experiência nos monopostos, o brasileiro tem a consciência de que 2019 ficou longe do esperado. Mas, ao mesmo tempo, Gianluca também sabe que muitas vezes o aprendizado e o crescimento, nas pistas e na vida, vêm nos momentos mais difíceis, como os vividos neste ano que está prestes a terminar.

Em entrevista ao GRANDE PREMIUM, Gianluca Petecof faz um balanço do que foi a temporada, avalia onde conseguiu aprender e crescer com o que não deu certo e fala sobre o próximo passo na carreira: a F-Regional Europeia em 2020, como preparação para um salto ainda maior no futuro: a F3.

“Agora é o melhor momento para olhar e ver como foi o ano. Acho que, logo quando termina a temporada, inevitavelmente eu e a equipe ainda carregamos ainda um pouco daquela emoção, daquela adrenalina da temporada, então é melhor esperar um pouco para fazer uma análise. E agora acho que é o momento perfeito. Claramente, 2019 foi um ano muito complicado para a gente em muitos aspectos. Trouxe bons momentos, momentos ruins também. Mas o principal é que nosso objetivo não foi atingido”, explica.

“Apesar de ter sido uma temporada em que a gente conquistou o vice-campeonato da F4 Italiana, o campeonato mais disputado de F4 do mundo, mesmo assim a gente não conseguiu nosso objetivo principal, que era o título. Foi uma soma de fatores: um ano em que começamos muito fortes, tanto na Itália como na Alemanha, mas, ao longo do campeonato, a gente não conseguiu desenvolver o carro para chegar a ter uma performance ideal no todo como equipe. Mas o importante é que a gente carrega muitas lições e, com certeza, isso vai ajudar muito não só em 2020, como na carreira inteira”, reconhece Petecof.

Para entender melhor a temporada de Gianluca, é preciso dividir 2019 em duas partes. O primeiro semestre foi muito positivo, com uma vitória na F4 Alemã e três na F4 Italiana, competição na qual o brasileiro ocupava a liderança. A última vitória de Petecof na categoria foi em 7 de julho, na esteira de grande batalha contra Dennis Hauger, definida somente nos metros finais da prova em Hungaroring. Com o triunfo, o piloto somava 155 pontos, contra 112 do norueguês.

Se obviamente era cedo para dizer que o título já tinha dono, não era precipitado afirmar que Gianluca tinha todas as condições de levar ao menos a taça da F4 Italiana.
 

(Gianluca Petecof (Foto: Prema Powerteam))

Só que a ascensão de Dennis na sequência do campeonato contrastou com uma queda brusca na performance do brasileiro. E isso fica refletido nos resultados: nas 13 corridas seguintes, Hauger venceu nada menos que nove provas, contra nenhuma de Gianluca, somando assim 233 pontos apenas neste período, já considerando os descartes.

Petecof, no restante do campeonato, não venceu mais e acumulou um total de apenas 78 tentos. O placar final da F4 Italiana foi de 369 para Hauger, contra apenas 233 para Gianluca.

Com mais tempo para assimilar tudo o que viveu na temporada, o brasileiro consegue ter uma clareza maior para entender o que de fato aconteceu e voltar mais forte em 2020.

“Consegui analisar bem as duas metades da temporada. A primeira foi exatamente como a gente esperava, como a gente queria. Conseguimos um começo muito forte nos dois campeonatos, vencendo as primeiras corridas de cada um. Na Itália, principalmente, nas duas primeiras etapas do campeonato vencemos três de cinco corridas, com mais um segundo e um terceiro lugares, abrindo, se não me engano, mais de 60 pontos na liderança do campeonato. Na Alemanha, estivemos sempre ali, apesar de algumas dificuldades no começo, mas sempre brigando pela vitória”, recorda.

“E depois da metade do campeonato, as coisas desandaram um pouco. A gente não conseguiu acompanhar a evolução dos nossos concorrentes como um todo, e a equipe inteira teve um pouco de dificuldade em algumas pistas, principalmente do campeonato alemão, para achar o ritmo. Começamos a ter dificuldade na classificação, não conseguimos mais lutar pelas poles tão frequentemente, como foi no começo do ano. E, da minha parte, alguns erros de pilotagem, jogando alguns pontos fora por incidentes”, explica.

“Acho que isso fez, principalmente na Alemanha, não alcançar, no fim do ano, a posição no campeonato que a gente merecia. Na Itália, havia muito pouco a fazer. Acho que o ritmo que nosso concorrente desenvolveu durante o ano com a equipe dele foi algo um pouco inalcançável para a gente. Mas, com certeza, da nossa parte, havia mais trabalho a ser feito. A gente vai analisar tudo isso, da parte mental e da parte técnica, para colocar em prova no ano que vem e não cometer os mesmos erros”, complementa.

Petecof viveu uma temporada de aprendizado nas F4 Italiana e Alemã (Gianluca Petecof (Foto: Prema Powerteam))

O maior aprendizado
 

Uma das características de Petecof que mais chama a atenção, além da maturidade mencionada no começo do texto, é a maneira como encara vitórias e derrotas: com uma serenidade pouco comum a um jovem da sua idade.

Com uma clareza que impressiona, Gianluca tem uma imagem clara dos pontos em que a dor da derrota representam a chave que pode levá-lo a grandes vitórias na sequência da sua carreira.

“Nesta temporada a minha maior lição, com certeza, foi da parte mental, da parte emocional, de como gerir melhor certas situações. Não necessariamente de pressão, mas situações em que precisava de mais paciência. É estranho dizer isso, mas precisava querer menos atingir as coisas tão rápido. Às vezes, faltou apreciar mais um terceiro, um quarto lugar, ao invés de querer colocar tudo para tentar ganhar, e isso custou caro”, diz.

No fim das contas, o piloto revela que aprendeu, a duras penas, a necessidade de ser mais conservador na pista e pensar mais no campeonato do que nas corridas em si.

“Cada situação, mesmo que pequena, vai somando e, no fim do ano, é uma grande quantidade de pontos que fica para fora. No fim, o campeonato é [uma questão de] matemática: você pode ser o piloto que faz as melhores ultrapassagens, o piloto com mais vitórias, o piloto mais rápido, o piloto que guia de forma mais agressiva. Mas se, ao mesmo tempo, você comete erros que não deveria cometer e joga pontos fora, você não vai ganhar o campeonato. Então faltou esse aprendizado, essa visão, que, no fim do ano, custou caro. Isso vai me ajudar a crescer como piloto e também fora da pista no futuro”, conta.

Desde o fim de 2017, Gianluca tornou-se parte da Academia de Pilotos da Ferrari, o concorrido e cobiçado programa de desenvolvimento de jovens da escuderia de Maranello. Uma das principais mudanças com a entrada de Petecof no projeto foi no seu dia-a-dia. Nascido em São Paulo há em 14 de novembro de 2002, o piloto viveu em Miami nos últimos anos antes de mudar de mala e cuia para a cidadezinha no norte da Itália, onde mora sozinho.

Totalmente adaptado à vida na Itália, o brasileiro, que fala italiano com fluência, coloca sua rotina em Maranello como um fator que acabou por acelerar o natural processo de amadurecimento.

“Acho que, ao longo de dois anos sozinho aqui em Maranello, que apesar de ser uma cidade da Ferrari — é muito pequena, uma cidade no interior da Itália —, aprendi a lidar com situações do mundo real, situações de adaptação rápida. Nasci e cresci em São Paulo… com 12 anos fui morar com minha família em Miami, que é outra cidade imensa, lugares sempre com alguma coisa acontecendo, cheia de gente”, lembra.

“E para mim, vir para Maranello, morar aqui, é muito diferente. Quando chega 22h, não há ninguém na rua, é uma cidade bem mais parada. Mas, ao mesmo tempo, sei que é o lugar que eu tenho de estar. É o lugar em que tenho de estar para trabalhar, para me desenvolver como piloto. E estar aqui, cozinhar, resolver situações do dia a dia, tenho minha bicicleta, com a qual vou trabalhar todos os dias. Então, como pessoa, mesmo, acho que amadureci muito como adulto, mesmo ainda tendo 17 anos (vim para cá com 15), acho que cresci muito, como piloto, mas, principalmente, como pessoa”, aponta.
 

(Gianluca Petecof e a vitória em Oschersleben (Foto: Prema Powerteam))

Uma nova versão de Petecof em 2020
 

O crescimento obtido no aspecto físico, mental e também técnico por conta de tudo o que viveu em 2019 faz com que Petecof tenha a certeza: o ano que está por vir tem tudo para ser muito melhor em todos os quesitos.

“Depois deste ano, cheio de experiências e aprendizado, com certeza me sinto mais forte para 2020. Uma das coisas que faltou para mim neste 2019 foi a experiência de brigar por um título na F4. Vim de uma campanha muito boa no ano de estreia, mas foi meu primeiro ano brigando por um campeonato. Muitas vezes quis olhar muito para uma corrida só, mas não olhei tanto assim por um campeonato. Em 2020, depois de ter essa bagagem de brigar pelo campeonato durante o ano inteiro, isso vai fazer a diferença. E ter passado por momentos difíceis te torna mais forte para qualquer coisa que venha no futuro”, explica.

Com a Academia Shell Racing, a Academia da Ferrari e a Prema, Gianluca já tem um objetivo bem definido: acelerar na F-Regional. O plano é semelhante ao traçado pela Ferrari e pela Prema para Enzo Fittipaldi, que disputou a categoria em 2019 e terminou como vice-campeão. No ano que vem, vai ser a vez de Petecof competir na F-Regional tendo em mente outra meta ainda maior neste ainda começo de carreira nos monopostos.

“O plano é fazer uma temporada na F-Regional e depois fazer a F3 Internacional em 2021. Quero ter meu ano de aprendizado agora, mas, ao mesmo tempo, crescer e amadurecer como piloto para chegar à F3 pronto para disputar o título. Este é meu principal objetivo para este ano”, revela.

Por fim, Petecof reserva palavras de agradecimento. Vinculado à Academia Shell Racing desde o início do projeto, em 2015, o piloto destaca o apoio que recebeu e que tem sido fundamental para a construção da sua carreira nas pistas da Europa enquanto segue o caminho do sonho de chegar ao grid do Mundial de F1.

“Como sempre, foi mais um ano fantástico com o apoio da Shell. Eu às vezes paro para pensar, e essa foi a minha quinta temporada como piloto da Shell. Penso o quão privilegiado sou por representar uma marca tão histórica e tão tradicional no mundo do automobilismo, e sou um privilegiado em dobro por representar essa marca e fazendo parte também a Academia da Ferrari, sendo que a Ferrari e a Shell têm uma parceria de mais de 70 anos no automobilismo”, comenta.

“Isso, para mim, é um orgulho imenso. Sou muito grato por tudo o que eles têm feito por mim, todo o esforço que eles fazem para apoiar minha carreira desde que entrei no programa. Se puder chegar à F1 ou numa categoria top do automobilismo, tenho muito a agradecer a eles. Agora, em 2020, vai ser mais um ano de muito trabalho e mais um ano com grande apoio deles, e vou fazer de tudo para retribuir todo o apoio que recebo dentro e fora da pista”, finaliza Gianluca Petecof.

Gianluca Petecof vai disputar a F-Regional Europeia em 2020 (Gianluca Petecof em Vallelunga (Foto: Prema Powerteam))

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