O novo regulamento da F1 tem mudanças profundas nos carros, mas também terá impacto nos pilotos; por isso, a preparação física torna-se um fator ainda mais importante na temporada 2017

 

Há imagens que fazem parte do imaginário coletivo dos fãs mais antigos da F1: Ayrton Senna sofrendo para levantar o troféu do GP do Brasil de 1991, em sua primeira vitória no país; Nelson Piquet desmaiando no pódio em Jacarepaguá, 1982; Nigel Mansell caindo, exausto, na reta final do GP de Dallas-1984, tentando empurrar sua Lotus. 

São cenas de uma F1 que já não existe mais. Registros em fitas que vão perdendo a cor, relatos de um mundo distante em que os pilotos completavam as provas no limite físico, lutando não apenas para conduzir seus carros à linha de chegada, mas para vencer uma batalha contra o próprio corpo. 

 

(Nigel Mansell, GP dos EUA, 1984)

 

Nos últimos anos, essas imagens se tornaram ainda mais deslocadas no tempo – em parte pela evolução da preparação física, em parte pelas características dos carros –, o que se viu foram pilotos cruzando a linha de chegada como se não fizessem esforço algum. 

Na F1 de 2017, essa história deve mudar. 

"Os pilotos terão de ser verdadeiros gladiadores, porque os carros irão colocá-los no limite físico. Talvez até vejamos pilotos deixando de vencer uma corrida porque estarão acabamos fisicamente”, disse Nico Rosberg, campeão da temporada passada, durante visita aos testes da pré-temporada, em Barcelona."

"É disso que precisamos”, concluiu o alemão, aposentado da categoria desde dezembro. 

Se a F1 precisa de pilotos que se desgastem mais, os pilotos precisam se preparar como nunca. Durante a pré-temporada, em Barcelona, o GRANDE PREMIUM conversou com pilotos e especialistas em preparação física e todos não têm dúvidas de que o campeonato que se inicia será aquele em que a categoria terá pilotos mais bem preparados em toda sua história. 

 

Os pilotos não saíram da academia durante as férias (Daniel Ricciardo, Treinos físicos, Red Bull, 2017)
Ao longo das duas semanas de testes, o assunto foi recorrente, e todos os pilotos concordaram: uma nova categoria começa – e ela não tem a ver apenas com pneus mais largos e carros com maior pressão aerodinâmica. 

“O carro será muito mais rápido nas curvas, e isso significa mais força sobre a cabeça dos pilotos, o que exige um preparo muito maior. É uma mudança grande, acho que será mais desafiador”, explica o tetracampeão mundial Sebastian Vettel

Outro multicampeão, Lewis Hamilton, dono de três títulos e favorito ao tetra na temporada que se inicia, também prevê dias duros pela frente. “O tempo dirá se estou fisicamente pronto ou não. Mas não importa o quanto você esteja preparado, esses carros te arrebentam. E esse desgaste não dá pra prever no simulador”, disse. 

Para adaptar-se a este novo cenário, os pilotos encurtaram o período de descanso e dedicaram-se aos treinos físicos em dias e horários pouco habituais. Valtteri Bottas, companheiro de Hamilton na Mercedes, divulgou um vídeo com seus treinos no inverno nórdico: corrida na neve, esqui e muita academia fizeram parte da preparação do ex-piloto da Williams. 

 

 
(Lewis Hamilton, Treinos físicos, 2017)

 

Nico Hulkenberg, que também mudou de equipe, chega à Renault no auge da forma. “Eu tive as menores férias da minha vida. Parei poucos dias e depois já estava na academia de domingo a domingo. As novas regras tornam os carros mais rápidos  e requerem uma preparação física muito maior dos pilotos”, avalia. 

Seu companheiro de time, o inglês Jolyon Palmer, não apenas concorda como prevê: quem não se dedicou, terá problemas. “Vai ser fácil descobrir quais pilotos foram à academia durante as férias e quais não foram. Quem não foi, vai sofrer”.  

Mas, pelo que se viu em Barcelona, todos parecem ter feito o dever de casa. O francês Romain Grosjean, da Haas, também treinou como nunca antes; tanto, mas tanto, que ele mesmo acha que passou da conta. “Se eu estivesse como ano passado, estaria destruído. Algumas corridas serão épicas: especialmente em pistas de alta velocidade e no calor, serão muito duras para o corpo. Mas eu não me senti tão mal. Talvez eu tenha exagerado nos treinamentos”. 

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As 20 corridas da temporada dirão se os treinos foram suficientes. Mas, sem medo de exagerar, dois jovens pilotos levaram a preparação ao limite. Carlos Sainz Jr., por exemplo, ganhou 4 kg de massa muscular e dobrou a carga de treinamentos físicos, que incluem boxe, um “crossfit de F1”, e três corridas de kart por semana com um capacete que carrega 2 kg de peso extra. 

Esteban Ocon, da Force India, revelou ao GRANDE PREMIUM que os treinamentos diários eram tão intensos que ele só parava quando o corpo pedia arrego. “Começava às 9 da manhã e ia até as 7, 8, às vezes 9 da noite. Em vários dias, treinei até vomitar”. 

 

Massa também trabalha com um capacete com pesos – são 7kg extras, com placas de metal (Felipe Massa, Treinos físicos, 2017)
 

Nova F1, novo Felipe Massa

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O novo momento da F1 também significa um desafio extra para Felipe Massa. Depois de anunciar sua aposentadoria, o brasileiro decidiu retornar após um chamado da Williams. E a forma como ele se prepara fisicamente para a temporada 2017 também impressiona. 

Para enfrentar o desgaste dos 20 GPs, Massa terá a seu lado durante toda a temporada o personal trainer Alex Azevedo. Especialista em qualidade do movimento, Azevedo está vivendo em Monaco desde fevereiro, para acompanhar de perto cada passo do piloto da Williams. 

“O automobilismo exige diversos aspectos físicos. Este ano, os atletas precisam de muito mais força que nos anos anteriores. Ele precisou ganhar músculo, já ganhou 2 kg de massa muscular”, contou o treinador ao GRANDE PREMIUM. 

Mas o trabalho de Alex com Massa vai além do condicionamento físico puro e simples, sobretudo por dois pontos. O primeiro deles é a adaptação dos treinos físicos do piloto às características de cada pista do calendário da F1. 

“Temos um cronograma específico para cada corrida. A Austrália, por exemplo, é uma pista que tem muita frenagem, então exige mais o trapézio e a parte de trás do pescoço, não tanto do lado. Então vamos focar nisso para essa primeira corrida”, explicou. 

Seja qual for o tipo de pista, a musculatura do pescoço merece uma atenção especial. Para isso, Massa também trabalha com um capacete com pesos – no caso dele, 7 kg extras, com placas de metal – e faz até mil repetições de exercícios por dia. 

Além do trabalho no pescoço e da adaptação aos pormenores de cada circuito, o personal também faz um trabalho de “consciência corporal”, que ele mesmo explica: “Temos que mostrar pra ele que é ele mesmo quem controla os movimentos; e não fazer os movimentos por fazer, fazer com concentração. Se ele souber controlar o corpo dele, ele vai saber controlar o carro. Quanto mais técnico ele for nos movimentos, menos energia ele gasta. Quanto menos energia ele gasta, mais inteiro ele termina a corrida.” 

Nos testes de pré-temporada, não foi difícil perceber o novo momento de Felipe Massa. Além de estar mais forte, o brasileiro ganhou muita resistência, a ponto de ter completado 168 voltas em um dos dias – o equivalente a quase três GPs da Espanha – sem maiores problemas. 
 

(Felipe Massa, Williams, Testes coletivos, 2017, Barcelona)

 

GUIA F1 2017 GRANDE PREMIUM

índice – parte 2
 

 A ‘classe de 2017’: quem são equipes e pilotos da temporada

 Novo regulamento técnico provoca revolução na categoria

 Preparação física se intensifica e forma 'Era dos Gladiadores'

 Feitos para voar: carros novos são mesmo muito mais rápidos

 O que será da nova F2 e da distante GP3 sem Ecclestone?

 Novo dono, Liberty já promove mudanças sensíveis na F1

 

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